Sobre a arte do ler e escrever artístico

Em conversa com um grande amigo me foi pedido algum comentário sobre o que se precisa ter em mente no fazer artístico das palavras. Escavei a mente em busca dos saberes que considero indispensáveis ao escritor-crítico, não apenas escritor, mas escritor e leitor crítico, consciente e autoconsciente da arte, não só dela; leitor do mundo que o cerca, observador atento dos fatos, da realidade e da língua, que permeia toda a realidade e a limita para o entendimento humano.

Segue transcrito abaixo o comentário por mim feito.

"Ler certo seria, provavelmente, perceber que o texto não é um objeto estático e único, mas o ponto de encontro de vários outros textos, de outras vozes e outros autores, que dialoga historicamente, culturalmente, que pode ser relido era após era de maneiras diferentes, mas, portanto, constitui-se num vazio de sentido, sem significado em si. Assim, o texto se torna uma "máquina de fazer sentido". Alguns textos são mais ricos na sua produção de sentidos, outros são mais rasos e simples. Há textos mais claros e objetivos, mais diretos, que orientam as possibilidades de sentidos a serem extraídos. Há textos que expandem-se num contínuo quase infinito, deixando ao leitor uma miríade quase inesgotável de sentidos a serem extraídos.

Isso tudo, claro, só nos focando no âmbito do Conteúdo.

No âmbito da Forma, penso que ler e escrever bem é reparar nas estruturas sintáticas como formas de expressão, que efeitos causam os usos de adjetivos, de advérbios, além do efeito de suas localizações dentro das sentenças.

Envolve perceber porque o escritor que se lê e em quem nos inspiramos colocou um certo fato mais no começo ou mais no final da narrativa e cogitar, foi isso para impactar? Para dar tom memorialista e nostálgico? Para concluir deixando o enredo aberto às interpretações, ou quis fechá-lo por completo, vedando ao leitor o sonho de futuros possíveis? Por que escolher certas palavras com certa sonoridade e não outras? Por que escolher certas palavras com certos significados e não outros?

Estudar poesia me trouxe uma riqueza enorme de conhecimentos sobre Forma e Conteúdo em correlação, agindo simultaneamente sobre o leitor, mas construídos, enquanto são escritos, de maneiras distintas e diferentes, em momentos diferentes.

Acho que a noção que estou tentando passar com "Forma" é Prazer Estético. Olhar para algo e, só de olhar, aquilo causar prazer, não ser desagradável (claro, isso para arte mais tradicional, arte de vanguarda, de impacto, de choque, quer causar um efeito de desconforto exatamente para levar ao pensamento crítico). No caso da poesia e da escrita em geral, a escolha de palavras, de frases, o esmero, o cuidado no fazer, o polimento, darão a beleza formal, enquanto o tema adequado, tratado de maneira correta e desenvolvido com profundidade e saber, levará ao prazer conteudístico.

A arte da palavra é a mais difícil de todas, meu caro. Quem disse isso foi Aristóteles, não fui eu!"