180 – O MEU SER IMPERFEITO...

Olha-me de novo! Mas olha com toda a atenção que lhe for possível, olhe para mim como um médico olha para um doente, profundamente, tente ver o que eu não consigo ver, veja o que me é negado, diga-me quem eu sou, se sou alguma coisa...

Alguma coisa sei que sou, mas o paradoxo é que não consigo compreender esta coisa, o que mais me intriga é não me ver claramente, sou um estranho que habita este corpo e ele tem a capacidade de se metamorfosear, de se transmudar, e assim sucessivamente me vejo neste calidoscópio maluco onde a cada instante brilha uma imagem, a cada momento outro ser se ilumina, se mostra dizendo que ele sou eu, tudo isto mais e mais me embaraça, sei coisa alguma sobre mim, e essa alguma coisa no espelho também me confunde, mostra-me uma pessoa completamente diferente, transmudada, anormalmente sinto que sou fragmentos de vários seres, por isto estou em constante mutação, em constante transformação, em constante destruição, e em constante renascimento...

Não sou capaz de me sentir, aliás, sou até capaz de me sentir, mas quando sinto que sou alguma coisa, essa coisa no momento que se segue já é outra coisa, na minha mente tudo é confuso e contraditório, vou vivendo nos pedaços de seres diversos à minha volta ajuntados, vivo por momentos diferencialmente opostos e antagônicos, não tenho a consistência do ser uno e perfeito, e por imperfeitos momentos vou vivendo na minha imperfeição, e quando consigo juntar todos esses momentos sinto que sou um ser remendado, um amontoado de pedaços aparentemente estranhos que aleatoriamente estão grudados em mim, tudo isto me transforma em alguma coisa imprecisa, misteriosa, e é assim que me vejo, se é que me vejo, pois o momento é tão fugaz que vagamente me vejo, eu sei que serei outra pessoa no transcurso do tempo, sinto que em cada pedaço do meu corpo pensamentos estranhamente conflitantes alvoroçam, das vezes chego a duvidar que estes pensamentos sejam realmente meus, chego a me estranhar, de longe vem esse tempo que sou assim, desde a minha meninice carrego na alma conflitos irreconciliáveis, no fundo eu sei que sou um amontoado de nada, mesmo esses nadas são divergentes e conflituosos, que fazem do meu ser uma obra imperfeita e eternamente inacabada!

Olha-me com os olhos da sua alma, decifra-me, e se não puder me decifrar, ensina-me o caminho da revelação...

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 15/03/2014
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