UM recorte de uma madrugada qualquer no subúrbio carioca (com medo de tudo que vou esquecer um dia).

É impressionante a rapidez com que perco o sono

por coisas que eu bem sei que não valem tanto a pena.

Em um ou dois anos mal vou lembrar dessas noites

quentes de janeiro eu que fiquei acordado olhando

pela janela a trepadeira que deixei crescer e que fudeu

com todo o meu muro.

Nesses dias (ou melhor noites) eu percebo que estou

ao menos na área certa, pois de que forma ia conseguir

estar de pé sei lá, as seis e meia ou sete horas, para as nove

estar em um lugar engravatado com o nariz seco do ar condicionado

em um daqueles prédios espelhados do centro.

Pode ser que eu morda minha língua a ponto dela cair um dia. E eu

venha a passar toda velhice fudido sem sem uma previdência,

limpando os banheiros desses mesmos prédios envidraçados,

sendo um uniforme sem nome enquanto os jovens engravatados

(dos quais de certa forma fugi) continuam a mijar fora da privada.

Queira Deus (esse mesmo que eu não acredito) me prove sua

existência ao menos me livrado dessa, e me fazendo permanecer o

mínimo de tempo possível onde não haja amor.

Pois eles estão lá, eles sempre permanecerão lá. E se não

houver lugar melhor onde dê pra ficar, que ao menos eu

me conserve por aqui. Com todo o ônus e bônus que venham

embutidos nisso.

Max Olivete
Enviado por Max Olivete em 10/01/2014
Código do texto: T4643689
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