O Desapego Vivo

Parei para refletir sobre o desapego hoje.

O desapego que é algo inexistente para muitas pessoas, e no entanto, tão vivo para outras.

Fiquei chocada com a minha própria pessoa. Como podemos mudar tanto e ser tantas pessoas durante uma só vida?

Sou como um camaleão. Vou mudando meus valores e minhas crenças conforme o tempo vai passando. As metamorfoses são uma constante e um tanto quanto necessárias. O que pensei ontem já pode não servir mais hoje e assim eu vou vivendo.

Hoje, quando eu estava chegando perto do supermercado...tive uma surpresa!

Vi uma colega de infância, estudamos juntas na mesma classe desde o primeiro ano do ensino fundamental até o último ano do ensino médio. Éramos inseparáveis, do tipo "melhores amigas". Enquanto ainda tínhamos afinidades, éramos sim...melhores amigas...porque depois as nossas diferenças falaram mais alto.Levei um pequeno e suave susto quando a vi. Ela estava junto com a mãe dela. Fiquei pálida. Eu venho sonhando com ela há 10 anos. Disfarcei o olhar, virei o rosto, ela me olhou, mas não me reconheceu por completo. É como se tivesse ficado em dúvida se me conhecia ou não. Eu fiquei aliviada. Não queria conversar. Era como se eu não a conhecesse mais, como se ela fosse uma pessoa estranha.

Mas o que me assombra é o desapego vivo dentro desta pessoa que sou eu hoje. Eu, que jamais pensei que pudesse chegar a este nível, cheguei e isto me causa reflexões. Em minhas lembranças eu procuro apenas manter as boas vivências que tivemos juntas. Os bons sentimentos que tive com relação a muitas amizades ficaram lá no passado. Aquelas velhas amizades hoje estão gastas e cobertas de pó, impregnadas de teias de aranhas, com cheiro de mofo e abandonadas.

Não consegui sentir nada especial quando a vi. Nada afetuoso. Era como se ela fosse um fantasma, uma verdadeira aparição. E ela não foi a primeira e nem a última pessoa a me causar estas "estranhezas". Eu a vi como uma estranha mas ao mesmo tempo também me senti assim.

Esta ausência de sintonia, de conexão é realmente algo impressionante.

As histórias são apenas histórias, o passado simplesmente é o passado, e as pessoas que fizeram parte dele são apenas personagens que cumpriram os seus papéis por tempo determinado. Fui personagem de tantas histórias alheias e vice-versa. Também posso ser um fantasma e causar estranhezas. Como disse o célebre Lavoisier "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo apenas se transforma". E pelo visto as relações seguem este padrão. As pessoas mudam, os sentimentos mudam, tudo apenas se transforma. Aceitar isso é uma condição para dar vida ao desapego.

Literapaixão
Enviado por Literapaixão em 15/11/2013
Código do texto: T4571389
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