A única coisa nesse momento que realizo religiosamente é tomar fluoxetina. Não me lembro exatamente de quando comecei a tomá-la. Acho que foi em maio de 2011. Lá se vão oito meses... Nos dois meses iniciais, percebi que a angústia que me ardia o peito havia desaparecido e um sintoma crescente, também. Comia gelo. Comecei com umas pedrinhas, por fim já mastigava duas cumbucas de gelo e terminava com lábios, língua e todo o resto interior da boca, dormentes.
     Fui avisada por seres-contato como Trigueirinho que tais sintomas apareceriam em algumas pessoas mais sensíveis e que estas deveriam não confundi-los com doenças psiquiátricas. Mesmo sabendo disso, não consegui lidar com os desconfortos os quais minha psicóloga passou a desconfiar que eram de depressão.
     O psiquiatra que indicou, dentro do meu plano de saúde, confirmou. Angústia, tristeza contínua, falta de apetite e de fome, cansaço e sono, mas sem conseguir dormir. Enfim, um inferno!
Nesse meio tempo confusões reais com relações virtuais, perda de contratos de trabalho, doutorado parado e muita dor e sofrimento psíquico...
     Detectei também o que chamei de “pânico da escrita autoral”, além de uma exacerbação da libido, o que fez com que meus pensamentos permaneçam seqüestrados com fantasias envolvendo situações eróticas as mais variadas... Tanto que há meses combinei com minha terapeuta que escreveria contos eróticos para extravasar tais fantasias e, quem sabe compartilhar anonimamente e divertir alguém que os leia... Ainda não consegui começar, mas penso em escrever alguns, para ir me esvaziando devagar de atuais e fantasias passadas, das quais ainda lembram e acho que dariam picantes histórias.
     Tanto o que ler, compreender, conceitos para mastigar muito antes de engolir e devolvê-los via Tese e artigos... Tanto o que refletir e escrever. Tanta história para contar... E eu travada e infeliz, infeliz e travada, infeliz porque travada. Travada porque infeliz.
     Uma luz no fim do túnel fui perceber no dia 20 de novembro, na celebração em uma das favelas do complexo Manguinhos. Quando meu filho observou que meus olhos estavam muito claros, me dei conta de que estava feliz. Foi como se ressuscitasse naquele dia. Não queria ir embora enquanto não acabasse tudo, mas o marido não se prontificou a levar as crianças. Saí sem querer, mais ainda assim, feliz.
     Sinal que compartilhei com o psiquiatra, pois passei a perceber que voltei a ficar satisfeita quando o samba estava bom e a cerveja gelada... O que antes não acontecia. Buscava prazer no que dava para acessar e não o encontrava, pois não me encontrava mais ali. Continuo gostando de algumas coisas que gostava... Isso agora me é muito caro, pois voltei a gostar e conseguir comer na maioria dos horários de refeição.
     “A fluoxetina está fazendo um bom trabalho”. Disse o psiquiatra. Continuarei com ela até a consulta de fevereiro e já tenho como meta iniciar seu desmame, pois a disciplina que expresso ao tomá-la religiosamente, precisa se expressar em hábitos de desejo (re) inserir na minha vida: voltar a comprar orgânicos; atividade física regular; cultivar sementes germinadas e fazer suco de luz diariamente; controlar a ingestão do que engorda e não faz bem (ou parar de vez); ler e escrever; escrever e ler e, sobretudo, em tudo expressar o Amor de Deus que eu puder e fazer a Sua Vontade a cada segundo da minha vida, o que significa cumprir o que combinei lá em cima antes de vir. Acho que assim, recuperarei a capacidade de dar conta do que o dia-a-dia apresenta como necessidade de dormir espontaneamente, ingerir o suficiente do que faz bem, e extrair o máximo de prazer de tudo o que estiver ao meu alcance e produzir para honrar a cada dia mais o investimento público na minha formação. 
     Começar a devolver todas as Graças recebidas para o mundo é o que eu mais quero agora. Espero fazê-lo com disciplina sistemática relevante como a que me impulsionou a tomar fluoxetina religiosamente.

12 de janeiro de 2012