deus
é sim esta a verdade:
todas as coisas vêm de deus...
e vêm com letra minúscula, — até mesmo o teu nome!
são graças, bendições.
como a chuva quando falta e vem e rega,
absoluta,
tudo aqui está carregado de sentido, — não te interrogues o sentido, vive-o;
tudo está feito para viver, — e se reproduz, e se encarrega de si.
por favor, não confundas ter coisas mais com poder nem sejas arrogante pelo simples possuir.
na verdade, o que é poder? qual a significação disso?
imposição? mentira? hipocrisias e leis e invenções baratas e força e...?
por favor, não confundas o poder
com aquilo que podes produzir
no mundo.
teu produto é fútil e ignóbil, apenas tua simplicidade é que é verdade,
apenas o momento em que te desligaste do afazer,
em que te abandonaste...
tua vaidade é mera ficção do teu desejo tolo
de homem.
o que existe em ti por dentro é sim plácido
e domingueiro. é muito mais próximo do sonho e das fadas, e do descanso do que
da ambição. o que existe em ti por dentro e para depois de ti é silêncio.
o carro, a moto, a logomarca que se inseriu no teu cotidiano corcunda,
isso tudo é um devaneio a passar breve.
o que fica és tu.
e tu és aquilo que vai ficar?
eu não quererei, meu deus, mais do que compreender diàriamente
mansa e calmamente uma coisa por vez; mas eu quero,
aos pouquinhos.
quero caminhar lento mas chegar certo. tomara que eu errando eu acerte.
e nesse meu desconexo ponto-final de poema
eu te peço também ser eu bendição, graça, chuva para chover
e levar.
para remar.
não quero chegar sem esforço a lugar nenhum.
do livro "telúreo canto": http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/4068568 (e-book) ou http://andreboniatti.wix.com/dialogopoetico#!livros/c14e3 (versão impressa)