Quebrar a Carapaça

Creio que para algo dar certo a dois deve haver reciprocidade: a disposição no sexo deve ser a mesma disposição a brigar; a de elogiar na mesma proporção de ser frio. E assim por diante. Isso é óbvio e inegável, e chega a ser redundância das mais descabidas citar esses assuntos de uma forma tão clichê. E também é como se fosse uma questão de equilíbrio. Como se fosse uma balança: se eu não sou capaz de fazer o que a pessoa faz por mim, eu desço e causo desarmonia. E eu não sou capaz de fazer nada verdadeiramente decente ou decentemente verdadeiro por alguém sem que haja uma sombra de dúvida pairando sobre minha cabeça, sem que eu me sinta armando uma ratoeira que eu mesmo serei pego posteriormente, sem que eu esteja propiciando concessões que me farão sentir o gosto amargo da traição das minhas próprias vontades. Queria mudar isto... Queria que o negrume das minhas prostrações diante de frustrações não ficassem incrustadas no meu âmago. Um sopro de esperança... É o que penso que poderia resultar no abandalhamento de pensamentos e atitudes infrutíferas. Destituir-me dos acessos ególatras. Destituir-me da necessidade de autoafirmação em autossuficiência. Destituir-me da necessidade de fechar as asas e voltar ao seguro casulo colado à árvore da solidão; ficar observando infinitamente a movimentação através das frestas, temendo a elevação dos ares causadas por algo bom... Porque isso parece, na maioria das vezes, ser menos nocivo do que bater asas e ter uma vida bela porém totalmente fugaz.

É tempo de quebrar a carapaça da indiferença.

É tempo de quebrar a carapaça da indiferença?

12/05/2012 - 13h30m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 12/05/2012
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