Assassinato da saudade

A primeira vez que me contaram que a palavra “saudade” não tinha tradução para nenhum outro idioma, fiquei maravilhada. E com o tempo, comecei a procurar seu significado, para Bob Marley: “Saudade é um sentimento que quando não cabe no coração, escorre pelos olhos.”, já para Rubem Alves: “A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar”. Poderia citar outros, muitos outros, todos os grandes escritores ou até os amigos de bar, já falaram um dia da saudade.

O que sempre achei interessante é que esse sentimento é o único que temos o desejo de matar. Ninguém fala: “Vamos deixar de ter saudade um do outros e sim: “Vamos matar a saudade?”, isso não acontece com os outros sentimentos, ninguém quer matar o amor, a felicidade, nem mesmo, a tristeza e o sofrimento.

Acho que a grande questão não é o fato de ser uma palavra, um sentimento que não pode ser traduzido para outras línguas e sim, o fato de que nem mesmo nós, brasileiros, conseguimos entender e expressar essa vontade do outro, de um lugar, de um momento. Já os outros sentimentos podem ser traduzidos, compreendidos e compartilhados. Sua saudade nunca é igual à saudade do outros, mesmo quando se sente falta da mesma coisa.

Talvez muitas pessoas não concordem comigo, mas eu acho que de todos os sentimentos, o mais difícil é a saudade. Como saciar a saudade? Como deixar de ter? Como mata-la? Porque, vejam bem, você não deixar de estar feliz, alegre por conta da saudade, não, esse sentimento não provoca isso. Porém, você pode estar numa mesa com 20 pessoas diferentes e alguém fazer algum comentário, algum gesto ou até você ver alguma coisa que te lembre a um momento, uma pessoa, um lugar ou cena.

Maldito sentimento esse, que não te larga. Você passa os dias e as semanas seguindo a sua vida, curtindo o quer curtir, aproveitando e esquecendo desse sentimento, até que ele vem e te invade, para deixar claro que nunca foi embora.

A saudade poder ser muito injusta, pode te fazer sentir falta mesmo quando você tem a pessoa com você, mesmo quando você tem um mesmo cenário. Ela faz questão de te mostrar que tudo não é igual ao antes, te faz querer voltar no tempo e desejar que tudo tivesse a mesma graça. E por isso, choramos de saudade, até de saudade antecipada, quando sabemos que algo vai ter fim e que a saudade vem chegando.

Com o tempo, me descobri “apaixonada” pela saudade. Encantei-me por esse sentimento tão confuso, tão dúbio. Que oras pode ser interpretado como amor, ora pode ser interpretado como tantas outras coisas, como felicidade nostálgica, um carência ou um masoquismo – quando se sente falta de algo que nunca te fez bem –. Mesmo assim, nunca encontrei definição, significado, um jeito que pudesse expressar cada tipo de saudade que senti e sinto. Porém, isso não me abala e não me aflige, acho até que a sua grande beleza está em nunca poder ser decifrada, ser totalmente entendida e compartilhada.