Monólogo-cogitações V

Acho o canto do acauã muito curioso por ser isolado e triste, nas crendices de algumas pessoas do interior, o canto dessa ave é adivinhação de sêca. Não sei até onde vai a crença e a ciência dessas afirmações, mas assim como os profetas da chuva observam detalhes da natureza e fazem às vezes certeiras previsões, quem sabe isso não seja verdade! Mas prefiro mesmo é falar do canto dele, observei na casa do meu avô no interior que, o acauã canta mais, bem cedo ou ao entardecer, a mãe da lua parece ter o mesmo costume.

O morcego e a coruja são, nos meio do cinema e muitas vezes na literatura dos contos, ligados a coisas sobrenaturais, mas será mesmo? prefiro não opinar. Gosto dos bichos pelo fato de serem seres vivos e terem cada um sua maneira de ser, às vezes vejo-os engraçados, outras os acho muito versáteis... um peixe preso a um anzol para mim é digno de piedade e ternura, observo ali um ingênuo levado inocentemente à prisão. O gavião e outros predadores são simplesmente animais que obedecem aos instintos de sua naturezas na luta pela sobrevivência. Vejo com alegria o bem-te-vi perseguindo a gavião e com carinho os beija-flores que vêem beber o líquido doce que coloco na varanda de casa; acho engraçado o barulho de um tatu comendo pirão, ou um cachorro bebendo água.

É digno de graça para mim o vôo do papagaio, porque parece desesperado e inseguro como alguém que está fazendo algo que não tem muita prática e fica parecendo atrevido e ridículo ao mesmo tempo, esse bicho ao voar emite um canto sem muita estridência, já o periquito faz um alarido grande e bate as asas com velocidade e presteza. O papagaio quando está acasalado raramente voa só, já os periquitos andam em bandos. Observo o voar das andorinhas e dos morcegos ao anoitecer, esses fazem um bailado em círculo, atacando os insetos no ar, são noturnos e solitários. Quando eu era garoto, vi um morcego se arrastando pelo chão de manhã, parecia estar ferido, tentei virá-lo e ao avistar a cara do bicho senti muito medo, a imagem era chocante de um monstro em miniatura, podia sem nenhum esforço fazer alguém fugir ou gritar de medo. Muitas vezes na casa de vovô usei uma vara de uns quatro metros agitando-a no ar nas tardinhas quando os morcegos já voavam, com isso enganava o radar deles e os derrubava. Eram as aventuras do garoto interiorano, fazia aquilo pelo prazer de brincar e vencer um ser que parecia inatingível como se isso fosse uma prova de um guerreiro caçador. Agora, depois de crescido e com alguns cabelos brancos, vejo essas coisas de modo bem diferente e essa piedade para com os animais é com certeza produto de algum amadurecimento.

Quando leio livros de história, interesso-me particularmente pelo que os homens fizeram em suas épocas, imagino que pro futuro vamos deixar mais pormenores de nossa existência e mais coisas inexplicáveis que nossos antepassados, pelo simples fato da problemática que criamos pro nosso agora, hoje cultivamos maus hábitos contra a natureza e contra nós mesmos. Quando penso dessa forma não creio que eu esteja sendo pessimista, acredito que a maioria das pessoas é boa, e que os jovens precisam ter a experiência para se tornarem responsáveis, como eu creio que sou hoje. Tenho ouvido falar que a humanidade um dia se destruirá a si mesma... quem sabe?! Será que isso não pode ser evitado ou protelado pelo menos durante bastante tempo, e enquanto o grande drama não acontecer, não dá prá quem for vivo, ir vivendo e conservando e aproveitando o que de melhor ainda existe?!