Devaneio

Aquela aparência doce, graciosa, sensível. Quem diria que a lembrança algo tão simples poderia afundar-me em tamanha amargura e alimentar-me com tanto desprezo! Penso durante muito tempo, no tempo e talvez fora dele, quem será que foi o culpado? Houve culpados? E todas essas tristezas vêem iguais a mim. Crer que tudo fora igual, começando igual e terminando da mesma maneira, uma doce paixão que se torna um delírio de ódio, devastador e violento, que devora minha alma aos poucos, descansa e retorna batendo na porta da minha mente e invadindo com toda sua memória. Como isso dói!

Algo com um anseio que vem sempre a repetir: -Eu te avisei!- É isso está certo, minha alma ou um anjo que vem avisar? Não! Eu desprezo anjo, como os desprezo, criaturas de um paraíso que é para poucos!

Fugir parece incabível, impossível e desnecessário, já que as memórias sempre alcançam seu objetivo. Contudo, para que mesmo? Para fazer-nos mais fortes, para não errarmos novamente? Isso é possível, não errar? Em quem confiar, já que não se pode saber realmente as intenções no âmago de qualquer um que esteja próximo ou longe? Vejo que este foi meu maior erro, a minha própria faca que rasgou minha carne e feriu minha alma. A confiança sega e ingênua como a de uma criança que espera apenas ser protegida e amada por todos.

Você, quem bate à porta do meu peito, sei que tem um punhal em sua mão à suas costas, diz-me para ser igual a todos para que eu não sofra mais! Como é hipócrita!

As aparências já não me enganam, vejo o passado nas feridas de minh’alma, refletida nesse espelho. Suas almas me gritam as suas verdades, tão feias, fétidas e podres!

E ando, ouço e vejo. Olhe! Quantos sorrisos externos e choros no interior, fingindo suas mágoas para os outros tentando fingir para si mesmos. Por que sou eu quem tem que ver, saber e sentir sua dor? De que crime sou culpado, para receber tamanho castigo? Mas fui eu quem te disse a verdade! Esse é meu crime? Dizer-lhe a verdade.

Me sinto tolo, pois quem se lembra além de mim, de quem ficou ao lado, sofrendo a dor alheia, calado. Questiono-me, será que se lembra quem ficou ao teu lado naqueles terríveis momentos? Eu nunca esqueço, fui eu quem pagou por sua dor!

Deveria chorar para sempre, contudo, depois de tanto tempo, as lágrimas acabaram por secar. Tudo, um grande drama não é? Então por que seu medo de sentir o que senti?

Continuo parado, escrevendo e olhando a cor pálida das paredes, sem vida, na qual eu fito esperando as palavras para toda a fantasia em minha cabeça, que me liberta dessa realidade cruel, as palavras para todas as verdades do passado e para as que tenham a capacidade de demonstrar os sentimentos aqui dentro, presos, corroendo-me. Continuo sem saber, se sou culpado, se é você ou o Quem além do meu conhecimento.

Céus como fui negligente. Agora minha alma agoniza, os sentimentos estão partidos e tudo o que vejo classifico como: - meus queridos e terríveis... Pois bem, é melhor eu não dizer.

Ariel Lira
Enviado por Ariel Lira em 11/10/2011
Código do texto: T3271344
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