O amor como princípio

Abenon Menegassi

Invariavelmente, por si só, o amor se torna algo vulnerável diante da violência devastadora da hipocrisia. Flor frágil, balouça ao vento dos caprichos tirânicos de quem, por estar momentaneamente de posse de algum poder, não se compromete em o outro ouvir. É como se o homem só se tornasse bom porque eventualmente as circunstâncias externas o inibiram de se tornar mal e, em seguida, liberado, passasse a agir com toda maldade e violência assim que a oportunidade afortunadamente o permitisse. Tudo passa a ser, nesta razão, questão de circunstância criada ou casual. Com quais outros princípios, portanto, se deve combinar o amor, para que ele possa acalmar as tempestades provocadas pelo ódio e proteger novamente os canteiros da amizade a verdejarem? Ante tal necessidade, dois outros vigorosos princípios evoco para que, aliados, possam fazer parcerias com o amor: são eles, a paciência e a sabedoria. A paciência, porque só ela sabe cultivar, em seu interior, o tempo certo de cada coisa acontecer, permitindo, logo, que se pondere sobre o modo correto de se fazer estas coisas. A sabedoria porque só ela pode nos dar a capacidade de, dentro do tempo certo, fazer o que é o correto, segundo as leis, a honestidade e, sobretudo, a ética.

Assim, é preciso, em tempos difíceis, acalmar-se e refletir. É preciso saber que o amor, como princípio, é o único sentimento que não se deixa submergir no imenso oceano de lama das vaidades humanas e que, só ele, pode neutralizar as forças maldosas das tempestades, para que o seu barco possa, digno, singrar de novo pelos mares abertos da esperança.

Desse modo, não há que se ter medo, não há que se ter rancor. Também, não há que se vislumbrar inimigos a serem aniquilados ali aonde só há seres singularmente determinados por sua história de dor. Não há que se encapar o outro, por mais mal que ele nos esteja fazendo, com o manto negro da inimizade. O amor, até por uma questão lógica de não contradição, não permite que alguém, mesmo em seu direito, possa vir a fazer o mal.

Desde esta perspectiva, infiro que quem faz o mal, sob qualquer pretexto de vir a defender um direito seu - um direito que no tribunal de sua consciência ele tenha avaliado como liquido e certo -, pois bem, este ser, ao fazer o mal não ama porque, por principio, quem verdadeiramente ama, não pode fazer o mal. Assim, o maldoso não ama nem ao outro, nem ao bem ou aquele que pretende defender com a sua ação nem, sobretudo, a si mesmo porque não se cuida para permanecer trilhando o caminho da saúde. Só o amor, a paciência e a sabedoria como princípios podem dar ao homem a serenidade necessária para que ele possa agir de forma salubre diante do mar de calamidades que se avoluma à sua frente quando a vaidade prepondera no coração daquele que não se interroga sobre o exercício de seu poder.

São Paulo 16/08/2011