O QUE HÁ DE MIM PARA VOCÊ

O QUE HÁ DE MIM PARA VOCE

Andava passos lentos, respiração devagar, olhando o tempo, tempo que as pessoas tentam agarrar insistentemente, ainda que conscien tes de que não há a minima possibilidade de conte-lo, alcança-lo. O tempo não perdoa, não da tempo.

Alheio a velocidade em que a vida flui para o futuro, ou simplesmente sem importar-me mesmo, seguia em meu plano de vôo, aereo ao que me preocupava, mas atento ao que acontecia em minha volta. Protegi-me do choque inevitavel, vi o susto do rapaz que vinha em minha dire- ção esbaforido em sua falta de tempo, distraido em seu plano de bur-

lar o tempo.

Estava em seu espaço aereo, ou o encontrei em meu espaço aereo, caos aereo pensei comigo.

Abaixei-me para apanhar emus papeis que haviam sido arrancados de minhas mãos na colisão, busquei o jovem com meus olhos ja novamen- te de pé, vinha com a ingenua necessidade de um sorriso, queria des- culpar-me e alerta-lo sobre o tempo, ainda consegui ve-lo se perder na multidão que freneticamente investia contra o tempo, o tempo que não para.

Subitamente lembrei-me de voce, e me vi nele, inquieto, alvoroçado, hiperativo em sua missão de tentar vencer o tempo, e terminar seu trabalho.

Pensei como seria se tivesse em voce, o que há em mim que gostaria que tivesse, ou que de mim recebesse.

Um passo seguro, adiantado, saido antes do tempo. Um azul celeste com o sol brilhando maravilhosamente, com voce observando como se fosse a primeira vez que visse um dia tão lindo.

Queria que tivesse um abraço forte, apertado, daqueles que sentimos o calor humano repleto de ternura, de amor e carinho.

Um sorriso aberto, daqueles que nos foge ao rosto quando sentimos la no fundinho, que a felicidade e verdadeira ou aquele aperto de mão que sincero que se da, quando realmente temos prazer em conhecer alguem, na boca o gosto daquele doce de leite que a dona Maria fazia la na roça, com bastante coco ralado, feito do leite coalhado que pre- cisava ser aproveitado, estes que são verdadeiramente saborosos. Uma mordida numa maçã do amor, goma de mascar sabor tutti frutti, passeio na beira do lago do parque do ibirapuera, afago no rosto, beijo na bochecha, piscada de olho.

O rapaz desapareceu completamente, ajeitei meus papeis em minha mão, olhei para frente, sorri o sorriso que tive vontade, senti os primei ros pingos de chuva molharem meu rosto, lembrei-me do cheiro de terra molhada e das coisas simples da vida, banho de chuva correndo pelas ruas de terra la do bairro na epoca de criança, as roupas sujas de barro e lama, a bronca da mamãe, o gosto delicioso da manga chu-pada em cima da mangueira do quintal do vizinho, pensei... o que há de mim para voce?

Ha um forte desejo que seja feliz, que pare e pense no futuro como futuro e o tempo como algo que não existe para ser vencido, que olhe para as coisas mais importantes da vida, simples, deliciosamentes simples, que um dia te fizeram feliz e fez parte da sua vida.

Ah, e mais uma coisa, que pare de tentar... Vencer o tempo

Renato Cajarana
Enviado por Renato Cajarana em 04/02/2011
Reeditado em 06/02/2011
Código do texto: T2772534
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