O TEMPO E A VIDA

Nascemos... e não conhecemos ainda o tempo, mas, conforme vamos conhecendo o mundo, somos apresentados a palavras como “quinta-feira”, “meio-dia”, “1 ano, 2 anos, 3 anos”, e começamos a perceber que existe algo o qual temos que alcançar. Assim, precisamos, desde muito cedo, ter de correr atrás do tempo. Esperamos pelo dia do aniversário, pela hora de ser servida a sobremesa, pelo primeiro dia de aula, pelo primeiro dia de férias... e vamos correndo desesperadamente com a impressão de que o tempo não passa.

Chegamos à adolescência tendo o tempo aos nossos pés, podemos fazer tudo com ele. Todas as possibilidades poderão ser preenchidas, mas estamos ocupados demais em esperar o tempo... esperar o primeiro beijo, esperar a festa de 15 anos, esperar a maior idade. Então, um dia, olhamos para trás e vemos que estávamos errados, não tínhamos mais que correr atrás do tempo, ele estava ali de plantão ao nosso lado e não o vimos. Agora chegou a vez das escolhas. Precisamos escolher qual faculdade cursar, com quem casar, se vamos ter filhos, se vamos nos dedicar a uma carreira, se vamos comprar uma casa, ou um carro. E, a cada decisão, uma frustração, pois escolher significa abrir mão de todas as outras alternativas...

É assim que entramos na fase adulta... ser adulto é não ter mais o que escolher, mas saber jogar com o que nos restou das escolhas passadas, pois agora o tempo se torna uma raridade. Não temos tempo para sair, não temos tempo para dar a devida atenção aos nossos filhos, não temos tempo para os amigos... Vivemos atordoados entre muito trabalho e a organização de nossas finanças. E ficamos correndo atrás do tempo perdido... pensando como teria sido se, em vez de casar, tivesse feito faculdade; se em vez de ter gasto tanto dinheiro com festas quando era solteiro, já tivesse comprado uma casa; se em vez de ter tido um filho aos vinte, tivesse aprendido uma profissão. E assim, o tempo nos faz sentir culpados.

Mas, aos poucos, vamos nos convencendo de que a vida é assim mesmo e não havia como ter sido diferente... é a maturidade que chega! O tempo passou mais uma vez e estamos velhos demais para trabalhar, nos aposentamos e passamos a ter todo o tempo que precisávamos para nossos filhos, nossos netos, nossos amigos... No entanto, percebemos que eles é que não têm tempo para nós, pois estão todos ocupados demais correndo atrás do seu tempo. E somos capazes de compreendê-los porque sabemos que a vida é assim. No entanto, nossa corrida pelo tempo nos levou apenas à solidão...

Pena que é bem no finzinho da vida que conseguimos perceber que, enquanto estávamos preocupados em correr atrás do tempo, estávamos valorizando algo menor. O que realmente importava o tempo inteiro era a possibilidade de deixarmos a nossa marca nesta passagem pela Terra, de fazer algo importante: a dedicação ao próximo, a construção de obras que pela ciência ou pela arte possam mudar para melhor nosso mundo, ou simplesmente a prática do bem. Quando nos damos conta disso, estamos prontos para completar nossa existência com a serenidade de quem sabe que o tempo é apenas uma convenção humana. Mas talvez já não haja tempo para isso...

Michele Machado
Enviado por Michele Machado em 29/12/2010
Reeditado em 28/04/2014
Código do texto: T2698159
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