Pai ausente

Sempre vi no meu pai a figura de um homem rude, bruto, mas honesto. Ele sempre foi um homem durão. Talvez, seria melhor se fosse desonesto, mas um cara de família, amoroso com os filhos. Não, brincadeira. Na realidade, queria que ele fosse, ao mesmo tempo, honesto e de família. Um homem que realmente se preocupasse com a esposa e com os filhos e que os amasse.

Meu pai sempre foi um homem muito ausente. Desde cedo, aprendi a conviver com isso. “Desde quando me conheci por gente”, vi que o meu pai era caminhoneiro. Essa profissão exigia distância do lar. Com isso, a ausência da figura paterna tornou-se a regra. Crescer sem a presença do pai foi uma tarefa não muito fácil. Enquanto os meus amigos estavam sempre ao lado de seus pais, eu me contentava com a distância do meu, buscando em outras coisas, o consolo pela sua ausência, na simplicidade da vida que levávamos. Minha mãe sempre foi uma mulher guerreira. Foi, ao mesmo tempo, pai e mãe.

O meu pai era alcoólatra. Assim o foi por muito tempo. Dessa forma, quando ele não estava viajando, estava em casa. Quando presente, ficava por pouco tempo sóbrio. Eram momentos de muita felicidade. Porém, eles não duravam muito. O vício o afastava do lar, assim como o volante do seu caminhão.

O tempo passou, cresci e um dia ele saiu de casa.

Passamos por momentos muito difíceis, mas foram grandes oportunidades de crescimento. Oportunidade, por exemplo, de ver aquela situação e não querê-la nunca para a minha família.

Passados muitos anos, o meu pai retornou para próximo de mim. Chegou como se nada tivesse acontecido. Como se tivesse saído no dia anterior e retornado no dia seguinte, de uma curta viagem.

Cobranças da minha parte nunca ocorreram. Pelo contrário, fui cobrado pela ausência de uma série de atitudes. Tomar a benção, por exemplo, quando nos encontramos. Atitude essa, perdida no tempo, que não consegui recuperar.

O tempo foi passando e, hoje, nos distanciamos de novo. Não por ele ser caminhoneiro, mas por causa dos diversos desgastes de relacionamento que tivemos.

Não tenho raiva dele, nem rancor. Fico feliz por estar próximo.

Estou pronto a ajudá-lo naquilo que for preciso. Mas vejo que o relacionamento de pai e filho ficou prejudicado enormemente.

A palavra de Deus me ensina a “honrar pai e mãe”. Honrar, segundo um dicionário qualquer, é respeitar, amar, cuidar, proteger, obedecer. Essas atitudes são fáceis de serem seguidas. O difícil, muitas vezes, é estar próximo.

Meu pai é uma pessoa ainda muito dura. Os sofrimentos todos pelos quais passamos, não o fez mudar de opinião, diante de certas situações.

Respeito o seu ponto de vista, da mesma forma que o respeito como meu pai. Mas não preciso concordar com ele.

Sou muito grato pelo que já fez por mim pelas coisas que me ensinou. Pelo respeito que sempre me ensinou a ter com as pessoas mais velhas, por exemplo.

A sua ausência não me tornou pior. Pelo contrário, tive a oportunidade de me tornar um homem melhor e ter ideais diferentes.

Entendo que a sua ausência e o sofrimento que isso me causou serviram de base para que eu pudesse adotar atitudes outras, para evitar que isso aconteça em relação à minha esposa e às minhas filhas.

O verdadeiro amor é que me sustenta. Esse amor só vem da parte de Deus, através de Seu filho Jesus Cristo.