Desculpem Parece mas não é
Aquela sua atitude... Pegou –me
Tão, tão desprevenida que não pude
Dizer qualquer palavra, pois me negou
O direito de ser, também, bem rude!
Sempre parece mansa, ter virtude...
Parece... Não é assim; você pecou.
Pecou, porque mentiu e isso amiúde
Mas... Passou. Chorar? Não!...Isso não sou!
Agora, sei. Parece mas não é.
Afastei de você. Agora gosto
Mais de mim mesmo e piso com mais fé:
Ainda saberei de você, sim...
Tudo aquilo que sai de nossa boca
É plantado com pompa, no jardim!...
Parece, mas não é!...
Moro num condomínio da zona Leste de São Paulo. Ruas pequenas, muitas curvas, muitos carros parados onde não deveriam muita gente até altas horas, principalmente no verão, pelas calçadas, jovens empinando motos, bicicletas e... “Já deu pra perceber o” fuzuê” que é.
Certa noite, minha filha, ligou para casa às onze e meia da noite, pedindo que fossem buscar em Santo André. Estava sem dinheiro para voltar para casa, porque havia sido assaltada. Nós dois, os pais, já estávamos deitados e meu filho se prontificou a ir buscá-la.
Não deu cinco minutos o interfone tocou: imaginamos que ele houvesse esquecido os documentos, mas um vizinho avisou que ele havia atropelado um rapaz, um motoqueiro.
Levantamo-nos como pudemos pernas bambeando, pois a pessoa não disse mais nada.
O prédio onde moro é o último de uma rua sem saída e, para sair dela é preciso ir para a rua principal, larga... Como ele pegou aquele motoqueiro, naquele lugar, não dava nem para pensar.
Ao chegarmos ele gritava para as pessoas dos prédios, que estavam nas janelas, para chamar o resgate. “Como foi isso, Jú?” “ Não sei, mãe. Ele apareceu, de repente. Eu brequei, fui pra calçada, mas ele passou por cima de mim! Que coisa mais estúpida, meus Deus!”
A mãe do moço, dizia aos berros que o filho tinha sido atropelado. O meu, pálido como um papel. “Aqui não tem moto nenhuma, disse meu filho!” “Cadê a moto?” perguntei. “Aqui não tem moto nenhuma”, disse uma mulher. “ Claro que tem. Eu atropelei um motoqueiro e quero ver a moto já!”
Uma moradora, amiga do moço, havia levado a moto para o prédio dela. Parece filme, né? Levaram a moto. Veio o resgate, veio a polícia. Um “tendel”. Meu filho havia atropelado um garoto menor de idade que vinha vindo da escola. Meus Deus! O moço desacordado, ensangüentado, a mãe dele quase matando meu filho de tanto falar mal!
Vem resgate, vem polícia! Um horror!
A polícia achou a moto e disse que ela não podia mais sair de onde estava. Que havia mexido na cena do acidente o que dificultaria a perícia. O carro parado logo abaixo encostado na guia teve de ser rebocado e levado para frente de casa. Foi levado para a perícia no dia seguinte. Tiraram várias fotos. A moto foi periciada no prédio onde estava, pois estava toda arrebentada.
Passados alguns dias, uma intimação chega a casa. A mãe do menino estava exigindo indenização, pois o filho estava internado e necessitava de remédios. Meu esposo, advogado, orientou meu filho que isso se resolveria mesmo na justiça. Que não tivesse medo de nada. Que se tivesse que pagar se pagaria, não daria para fugir da responsabilidade. Pagamos um amigo para defendê-lo.
No dia da audiência o promotor, olhando as fotos do carro e da moto, disse ao juiz: “Não há a menor dúvida. O carro foi atropelado pela moto”. O garoto é menor de idade, sem habilitação, pilotando uma moto dada pela própria mãe.
Sentença: a mãe foi processada por permitir que o filho menor dirigisse veículo motorizado. Ele vinha dirigindo a moto e “paquerando” as mocinhas que vinham da escola e fez a curva sem olhar e não deu tempo de desviar do carro de meu filho.
Graças a Deus. Parecia que ele era o errado, o descuidado... Mas as fotos periciais foram conclusivas em sua defesa. As marcas do pneu no chão, a distância que levou para frear. Tudo o favoreceu... Acabaram se mudando daqui.
Não é porque tem sangue ou o outro está ferido que é coitado. Às vezes... Não é o que parece.
Este texto faz parte do Exercício Criativo Parace mas não é
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Peço desculpas por estar postando hoje...Problemas. Abraço todos!