O Poeta das Perturbações Psíquicas
Hoje acordei com um sentimento estranho;
num estado epiléptico,
de pensamentos fétidos
e rugas no espelho.
Ainda no espelho
havia uma pele ressecada,
olhos mortos e boca sedenta.
Que coisa é esta que me mata?
As alegrias se foram
e só ficaram mágoas-estraçalhadas.
Há merdas por todo lado,
e este cheiro me agrada.
Estou desta forma
e não me importo mais...
Em que estado é este
que o amor me deixou?
Pareço o Frankenstein,
mais um morto-vivo
assombrando seres humanos sintéticos.
Antes cuidava das letras
como Beethoven amava a música,
agora sou o escritor vagabundo;
genocida de leitores leigos!
Tornei-me num poeta
apaixonado pelo cheiro da carniça,
pelo sabor da cachaça
e pelo mundo das desgraças.
Amanhã, mais uma vez,
calar-me-ei perante o espelho!
Observarei meus olhos, tentarei reconhecê-los,
mas os olhos que verei
não serão meus próprios olhos,
nem mesmo aquela boca podre
poderá ser a minha.
Acabarei percebendo
o que outrora não percebi,
o amor está me fazendo cativo
de doenças efervescentes,
está me levando à podridão carnal.
A vida vai passando
e em mim nada muda,
vou vegetando as minhas esperanças
e vivendo da inconsequência dos meus actos,
vou sofrendo a impureza das minhas histórias
e das minhas aflições.
Sou o homem tuberculoso,
o anémico pneumático,
meu tórax vai estourando
e minha vida se diluindo em sangue.
Vou ser trevas em meio a luz, um triste sufocador das felicidades!