PÁ DE CAL
Vejo em cada rosto um expressão, em cada olho um brilho,
sinto em cada gesto um lamento, em cada lamento uma história.
Peço que não sejam mais doloridas nem mais sofridas que a minha,
que amargo solitariamente imerso no meu eu, em meu mundo incapaz covardemente de magoar, de ferir. Peço que não sofram como meu coração solidário que não vê motivo para doar-se, que não encontra carência sem leviandade, necessidade sem ambição.
Foi-se o tempo em que as pessoas nasciam sem oportunidade, agora, ser carente virou meio de vida.
Meus olhos se enchem de lágrimas assim como meu coração se turva e minha desilusão se apodera todo meu ser, cuido de tantos, amo a tantos e amparo, agora, quem ira me socorrer?
Busco por socorro como um afogado busca a superfície para encher os pulmões de ar para resistir mais um pouco até que alguém o socor- rer mas, quem ira me socorrer?
Por que amo e não sinto esse amor envolver, contagiar? Será que vivo
um pesadelo? Será que sou um ser anormal, uma aberração? Será que todos estão certos, que não existe mais jeito para o ser humano?
Ah! como queria acordar de manhã e ver que foi tudo um sonho ou me
lhor, um terrível pesadelo, queria acordar e ver que o brilho nos olhos das pessoas, era um brilho de alegria de felicidade, que cada gesto fos
se um gesto de amor, de solidariedade. Queria acordar e ver que ao contrario, não houvesse mais necessidade, não houvesse mais mentira
hipocrisia.
Como queria não precisar mais de socorro, não suspeitar, duvidar, não
pensar qual é a intenção real de cada pessoa em minha volta, queria poder deitar a cabeça no travesseiro e saber que o mundo não precisa
de mártir de redenção e que eu não mais preciso de socorro.