O Paradoxo do Tempo

Não consigo avaliar muito bem quem tem mais preocupações com o tempo. Talvez sejam as pessoas mais velhas que vêem o tempo de vida restante diminuído drasticamente a cada ano que passa. Talvez sejam os de meia idade, que pela frente já enxergam o caminho da velhice se aproximando, e virando para trás vêem frustrações e sonhos não realizados. O fato é que daqui a duas semanas é minha vez de ficar um pouco mais velho, vou completar 27 anos vividos. Claro que todos me dizem que eu não tenho nada a me preocupar, ainda sou jovem, ainda tenho uma vida pela frente, tenho um mundo a construir, uma história a lapidar. Mas mesmo assim essa mudança já me incomoda, não sei exatamente porque, mas o passar do tempo já começa a me trazer uma angústia. Quem não quer ver o tempo passar depressa quando é bem jovem? Primeiro é a vontade de deixar de ser criança, e essa seguramente é a vontade da qual mais vamos nos arrepender, mas mesmo assim queremos crescer, poder ficar até tarde na rua, namorar, beijar na boca. Depois que nos tornamos adolescentes, começamos a ter os problemas de amor e paixão, namoradinhas complicadas, histórias que nos tiram o fôlego. Então nada mais justo, queremos crescer logo para poder casar, viver com alguém, dirigir, beber, ir a festas de adultos, boates. Queremos a maioridade, queremos ser livres, queremos não precisar mais dar satisfações a ninguém. Mas depois dessa fase onde queremos apressar o tempo de qualquer jeito, começamos a sentir que a vida começa a passar mais depressa naturalmente. Temos as preocupações do dia a dia, faculdade, trabalho, namoro, casamento, às vezes filhos. E o tempo vai passando em um ritmo louco que nos assusta. Eu ainda não vivi tudo isso que citei, mas já queria poder dar uma paradinha no tempo para respirar um pouco. Ainda estou estudando, parece que essa fase de estudar não passa nunca! E realmente não passa. Ainda não tenho uma família, ainda não tenho filhos. Tenho um grande amor, que não consegui viver plenamente. Um grande amor mal resolvido. Tenho ainda uma vida instável, e já estou fazendo 27. É impossível não pensar que o 3.0 está logo aí na frente. É impossível não se preocupar em deixar alguma coisa importante na vida. Um legado, que pode ser em forma de um filho, ou talvez em forma de um grande feito que seja lembrado por muita gente. Mas o tempo continua passando, implacável. E quanto mais ele corre mais eu quero voltar à adolescência. Queria poder viver novamente todos esses amores, essas paixões mal resolvidas. Queria começar tudo do zero, escolher uma nova profissão, viver um novo Love story. Quem não queria essa oportunidade de iniciar outra vez. E a nossa relação com o tempo é assim, tão complicada quanto o nosso intelecto. Felizes aqueles que conseguem ter uma boa relação com o tempo. Mas certamente são raros. Estou estudando a respeito e tentando administrar melhor essa passagem, que na verdade nada mais é do que administrar as fases naturais da vida, mas infelizmente é bastante difícil, porque não somos preparados para isso. Ninguém nos ajuda a viver plenamente o hoje. A sociedade é imediatista, e cada vez mais nos obriga a adiantar nosso relógio, deixando para trás momentos importantes que precisavam ser vividos. Ainda estou longe de conseguir uma boa convivência com o tempo, mas acredito que seja possível sim alcançar isto. Quando eu entender um pouco mais, eu volto a escrever sobre o assunto. Quem sabe só o passar do tempo vai me dar experiência suficiente para tanto, mas veja só, novamente caímos em um paradoxo. O paradoxo do tempo.