UM ANO PASSADO...

Hoje faço um ano de Recanto. Soltei laços, libertei emoções, desabrochei sentimentos, abri a minha alma, subi ao palco da Poesia, doei-me, descobri-me. Mas sobretudo aprendi. Recebi. Evoluí. Não sei se mereci tudo o que me foi dado, mas quero que saibam que guardo tudo, tudo, na parte melhor de mim mesma... naquela onde guardo a amizade, a esperança e a capacidade de agradecer...
Vou deixar-lhes aqui alguns dos meus comentários-pensamentos que as vossas obras me inspiraram... sem nomes, sem rótulos, sem datas... para lhes provar quanto vos devo, quanto vocês me ensinaram a reflectir, a saber da Vida, a conhecer a generosidade das palavras... a descobrir-me, descobrindo-vos...


"A julgar pelo fragmento-amostra, você é tecido com que eu forraria o meu cofre de afectos..."

"Quem disse que somos de nós? Somos da cicuta, que nos condenaram a beber... talvez por um dia pensarmos que o Mundo era nosso, que éramos superiores ao gado dócil e ruminante dos prados de Abril... O único conforto que temos, o nosso último raio de sol, é a certeza que o coração é o último a ser vencido... pelo veneno da cicuta..."

"... que ele, o majestoso Sol, ronda sempre, é verdade... Mas quantas atrocidades se cometem, enquanto ele, entre uma ronda e outra, pisca os olhos de sono!!"

"Demorei a chegar cá (demorámos, demorámos...), mas vim, sem cravos, nem rosas, mas com a esperança nas mãos... ainda que doente, abatida... Trago-a nas mãos em concha, com jeitinho, não vá o desespero assustá-la, não se vá o encanto quebrar! Enquanto houver sobreviventes do 25 de Abril de todos nós, de todas as nossas vidas, não quero deixá-la morrer. Antes reparti-la, doá-la, dá-la, que deixá-la cair, esquecida, nos solos apodrecidos onde jazem cravos e rosas apodrecidos... "

"Cada segundo é preciso... Já não se vende tempo no Templo do Vendilhões..."

"O verdadeiro poeta é um bom "chef de cuisine": serve verdades cruas com sabor de requintada confecção..."

"Uma boa maneira de amenizar o som agudo de um grito necessário, é arrancar-lhe as raízes e replantá-las, estrategicamente, nos nossos pequenos gestos... os ecos da colheita serão macios, tenros e frutíferos..."

"Adianta saber em que encruzilhada nos perdemos? A encruzilhada perdeu-se, lá atrás, não podemos voltar lá... Há uma força a empurrar-nos para a frente, para a frente... será que temos alguma ascendência sobre essa força, ou ela é escrita em nós, indelevelmente, fatalmente? Pude, eu, fugir aos lobos que me acossaram, no caminho? Não sei, no momento achei que não, ainda que sabendo que me iria arrepender, ainda que tendo a lucidez de ver que esse era o caminho errado ... como se o Universo reunisse forças para me sitiar..."

"Será que atingiremos, um dia, a perfeição? E o que é a perfeiçao?...A ingenuidade do não saber, ou a prepotência do refinado ardil?"

"Às vezes, quem está dentro de si, molha-se bem mais do que quem está fora, na coragem do relento, à chuva e ao vento..."

"Nada como uma noite escura, para se perceber o brilho das estrelas...!"

"Só colhe flores quem caminha no lado fértil da Vida... "

"O melhor de fazer poesia é, precisamente, brincar com as palavras, dizendo tudo, intencionando o nada... ou será que são as palavras que brincam connosco, dizendo nada do que queremos tudo??..."

"Quem não venderia résteas de alma ao Tempo, para que Ele lhe concedesse o poder do oleiro, que faz, e desfaz, e corrige a obra, até à perfeição??!!"

"Há dois tipos de silêncio: o que nenhum grito consegue rasgar, por serem espessos e estanques, insensíveis... e os que que nos intimidam tanto, pela sua fragilidade, que, perante eles, não ousamos mais que sussurros..."

"Solta-se a fera, [a palavra] em auge de dor aberta, e perde-se-lhe o controlo, jamais a conseguiremos travar, eliminar, ou sequer trazer de volta... e o pior é que, tantas vezes, ela crava as garras na presa e a mutila para a vida..."

"É, a insónia tem sempre um lado positivo: faz-nos desejar o Dia! (o que às vezes é tão difícil!---desejar o Dia, claro.)"

"Ocorreu-me, de repente, que talvez tudo nesta Vida tenha um par, o outro lado... talvez nós sejamos até a outra face de Deus, não é? Por isso, talvez, é que Ele está sempre lá, sempre..."

"Há poetas que, mais que entrar-nos na alma, se entranham em nós, nos servem, se fazem instrumento do nosso próprio arremesso, expurgação dos nossos próprios gritos..."

"O peso? Leve como o vento, pesado como a nossa cruz... O valor? Desdenhado como um vintém e precioso como o mais cobiçado tesouro... A medida? Mesquinho como o ciúme, grandioso como a renúncia..." [do amor...]

"É após um barulho ensurdecedor que o silêncio mais nos magoa..."

"Quando eu me tentava encontrar, tu vieste e marcaste tudo com as tuas pegadas... e eu ... perdi-me por completo!..."

"Às vezes não conseguimos ver Deus, porque Ele está DENTRO de nós..."

"O Tempo passa através de nós, intacto, incólume, indiferente... mas serve de agente de transporte, mesmo sem o querer ou saber, às nossas sementes..."

A Vida explica as palavras, mas as palavras nunca conseguirão explicar a Vida... mas os poetas são gente destemida, nunca desistem!"

"O passado, às vezes, é o único presente que a Vida nos dá..."

"Entender não é preciso, sentir é preciso."

"Como é possível os filhos enceherem-nos a alma tanto, tanto, e ela ainda nos caber no peito!?..."

SERÁ QUE DEIXARÃO OS POETAS ALGUMA VEZ SER HERÓIS?...
EM VIDA CHAMAM-LHES LOUCOS...
E ETERNOS... HÁ TÃO POUCOS!!