Sobre o que não se sabe e se sente

Não sei se posso estar equivocada a respeito do que vou exprimir agora....mas tenho cada vez mais a certeza de que para escrever, é necessário uma breve e profunda abstensão de querer a vida.

De desejá-la,de querer sentí-la de alguma forma.

Aquele que escreve,se traga a vida,morre na poesia...erra nas entrelinhas.Por que a vida é isenta de profundidade no cotidiano,é abusivamente vazia.E não há aquele que possa se entregar à poesia,se houver nele um vestígio do que há externamente...por que a poesia se faz dum íntimo 'sentir',que a realidade da vida não nos permite.

É preciso despir-se do figurino humano,...e ser alma.

Estar 'luz'.

Dominar um novo paladar,afinar os olhos e o coração para que se possa estar amplo..para que se possa ter nos braços força que embale a tristeza,...e que a faça mostrar-se em beleza.

Aquele que trouxer os olhos anuviados pala busca da perfeição,não pode ser intenso e nada do que ele escreve pode ser sentido por aquele que sonha.Por que o que sonha,passa por um refinamento...

De seus olhos chamusca o brilho das estrelas somente,mesmo que ainda se faça dia.Das suas mãos escorre livremente um nascer de palavras,do seu corpo já se exala uma suave brisa..e os seus pés acompanham um ritimo todo claro.

Para sonhar se exige estar tão cheio,que se esvazia a cada tom da respiração.

Se exige estar tão frágil,que um trecho que não se completa pode,sem compaixão,pôr um poeta a falecer paulatinamente...doloridamente.

Para escrever não é preciso erudição, como a maioria das pessoas que passeiam pela rotina acreditam,é preciso saber livrar-se de si e do tempo quando for necessário.

É preciso somente capacidade e sensibilidade para desfazer-se de vez em quando.

E saber-se 'comum' entre os outros milhares de loucos em busca dessa não-vida que se apresenta toda ilimitada diante dos olhos que não temos... ... ... ...diante daquilo que não somos.

Por que aquele que insiste em sonhar e escrever sobre seus louros perdidos,é senão um monte de poeira nos olhos dos humanos...é uma falsa partícula do universo.... ..... ....é um 'não-ser' todos os dias."

Talita Fernanda Sereia

Talita Fernanda Sereia
Enviado por Talita Fernanda Sereia em 30/06/2008
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