ORELHANO

Piazito, sem procedência,

Que ,de algum lugar da Querência,

Chegou nos galpões de Estâncias.

E o buçal das Circunstâncias,

De Pronto de lhe palanqueou,

Tirou as coscas, encilhou,

E preparado, lhe deixou

Caldiado para toda a lida,

Mostrando o que, nesta vida,

O mundo lhe reservou.

Recém saindo os colmilho

Meio fracote e acanhado,

Era pra tudo mandando,

e, se em algum tombo feio,

ficasse meio alquebrado,

Lhe davam um jujo esquentado,

E estava logo curado.

-Levanta guri! Busca os terneiros,

Que as vacas tão na mangueira,

Vai apartando as leiteira,

Para tirar um apojo a capricho,

-Este galpão tá que é um lixo,

E fogo está se apagando,

Vê se acende algum tição,

E faz um mate de primeira,

Que tá chegando o Patrão.

Já desde cedo aprendeu,

Que o Patrão gosta de agrado,

E de manhã levantado,

Logo que a alba reluz,

Ainda sob a meia luz

Bate tição com tição,

E faz, um fogo de chão,

Para aquentar a cambona,

E sentado sobre a carona,

Vai cevando um chimarrão.

Nunca recebeu carinho,

De pai, de tio de padrinho,

De mãe que lhe desse um ninho,

Pra descansar a ossamenta,

E ficou velho sozinho,

E a vida – qual redemoinho,

Ou como num tiro de laço,

Foi juntando os seus pedaços

E a sorte é quem lhe sustenta...

E ficou sendo um destes tauras,

Silenciosos e cabisbaixos

Que se encontram nos galpões,

Que vivem curtindo ilusões,

De um dia virarem gente,

De expressarem o que se sente,

No fundo do coração,

Mas que embalde estes anseios,

Que lhes acalanta alma,

Nunca encontram a vida calma,

Ou algum porto Seguro,

E embora acendam velas,

Não esperam que por elas,

Possam sair do escuro.

Até que um dia qualquer,

Caiam em algum seio de laço,

E se partam em mil pedaços,

Se despachando da vida,

Que foi, longa, dura e sofrida,

Sem alegria e sem luz,

E por estranho mistério,

Se embretam em um cemitério,

De alguma beira de estrada,

Que será sua morada,

Tendo por marca uma cruz,

Que o tempo, logo destrói,

E o que mais, na gente doí,

É , do taura, não restar mais nada!

ERNER MACHADO
Enviado por ERNER MACHADO em 12/02/2024
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