dá-me luz, ó tempo!

nada de poesia

sem nevralgias

sem expectativas

nem esperança

nem a porcaria da esperança

dá-me luz, ó tempo

dá-me a escuridão que acalma os olhos

dá-me o arco-íris pastel

a tarde sépia

a camisinha com xilocaína

o meu sommalium 6mg

o meu travesseiro com cheiro de cabelo

dá-me sabedoria, ó tempo que nos quebra

que nos quebra como gravetos secos

como cana nova no canavial

como osso de galinha na boca de um leão

dá-me, ó tempo

a força de esperar

a potência de saber

a paciência dos fracos

dá-me o acorde menor

pra me fazer calar

pra me fazer amar

amar ainda mais quem me ama

quem me ama merece

mais que ninguém

o meu respeito

e a força do meu corpo

de barro vivo e elétrico

e que deste corpo

saia a produção

que alimenta o bem dos meus

os olhos dos que me querem bem

e me querem ter

que eu seja todo

e seja de todos vocês.

Luciano Fortunato
Enviado por Luciano Fortunato em 25/02/2008
Reeditado em 25/02/2008
Código do texto: T875068