Quando Ele nos encontra - Capítulo 1: Algo esquecido

– Muito obrigada, bom dia para você! - Disse Natália sorrindo após ter recebido o comprovante das postagens nos Correios.

Ela sempre procurava ser simpática com todos e dizia que cumprimentá-los ajudava qualquer um a ter um dia melhor.

Mas na verdade, não era por isso que ela os cumprimentava gentilmente sempre sorrindo, e sim porque prometeu a si mesma que seria diferente de quando era mais nova.

Depois de ter voltado para casa, em que morava com seus pais, Carlos e Denise, e com sua irmã mais nova, Júlia, começou a fazer mais um dos novos cadernos personalizados que vendia na internet.

Seus pais sempre a deixaram fazer o que quisesse porque era uma menina exemplar e talentosa, então não havia com o que se preocupar. Já sua irmã sempre arrumava alguma coisa para discordar, mas elas eram muito amigas, então a convivência era frequentemente cheia de risadas.

Sua irmã sabia dos seus segredos e defeitos, mas sempre a ajudava, apesar de ser mais nova.

– Acho que esse caderno de folhinhas ficou muito bom, você não acha, Júlia? - Perguntou.

– É, ficou bem fofo, só que eu acho muito trabalhoso, como sempre te digo. - Respondeu Júlia, não podendo controlar a risada.

– Júlia, a alma do artesanato é essa mesma: ser uma coisa especial. Como ser mais especial do que um caderno que levei tantas horas para fazer?

– Sim, verdade. - Disse Júlia, ainda rindo.

Natalia tem uma marca de cadernos personalizados, chamada Caixa da Dorothy. Cada caderno leva horas para ficar pronto, pois se parecem com bolos enfeitados, mas ela insiste em trabalhar neles, pois começou fazendo-os como hobby aos 17 anos, e eles eram tão lindos que suas colegas da escola queriam também. Agora, depois de três anos, ela está determinada a fazer esse negócio dar certo.

De fato, ela consegue vendê-los muito bem, pois faz questão de postar fotos e vídeos bem feitos, além da fala dócil que usa para falar deles nas redes sociais. Seus seguidores a consideram o máximo da fofura.

– Nat, você já pensou em ir na igreja? - Perguntou Júlia.

– Ué, por que a pergunta tão de repente? - Respondeu surpresa, pois sua irmã nunca tinha demonstrado interesse por nenhuma religião.

– Ah, porque meus amigos da escola me convidaram para ir na igreja deles, aí eu te perguntei para saber se você quer ir comigo.

– Entendi, eu não quero ir, não. Não sei o que fazem tanto lá, mas não quero perder tempo indo descobrir! - Respondeu Natália balançando a cabeça.

A família delas nunca foi muito religiosa. Eles acreditam em Deus e em Jesus, mas raramente foram em alguma igreja. No máximo foram em algumas missas, cultos e casamentos. Se tentarem, dá para lembrar e contar nos dedos quantas vezes foram nesses lugares.

Natalia também nunca teve interesse por religiões, porque desde adolescente sempre estava ocupada estudando, fazendo seus cadernos e assistindo séries. Como sua família nunca teve esse costume, ela também não procurou saber.

– Se você diz... Mas eu vou ir, não lembro qual foi a última vez que fui em uma igreja. Meus amigos vão, então se for chato, pelo menos nos encontramos mais vezes. - Júlia respondeu, rindo.

Júlia foi para seu quarto se preparar para dormir e Natália continuou fazendo seu trabalho, pois ainda tinha que terminar os posts e cadernos para o dia seguinte. Ela faz quatro posts por dia nas redes sociais, o que a mantém bem ocupada para pensar em qualquer outra coisa que não seja sobre trabalho.

Então, abrindo a gaveta para pegar o carregador do celular, viu algo já esquecido, uma Bíblia antiga que tinha ganhado de sua avó quando era criança.

– Oh, uma Bíblia! - Disse surpresa, bem baixinho, já que não queria que ninguém a ouvisse falando sozinha. - Parece que alguém vai precisar dela, querendo ir na igreja. - Falou ironicamente lembrando de sua irmã.

Fechou a gaveta. Pensou novamente e decidiu abri-la-la de novo, pegou a Bíblia e levou-a para a prateleira de livros.

– Bem, agora que terminei meu trabalho, vou colocar você aqui e vou me arrumar para ir dormir, amanhã te dou para a Júlia. - Disse ela para a Bíblia enquanto a colocava na prateleira.