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Sinopse

Ana Lucia Vasconcelos sofre uma das maiores decepções de sua vida, justamente ali, na Praça dos Andradas, na bela Santos, cidade que ela tanto amava. Somente as águas dos mares paulistas e as areias da praia foram capazes de consolá-la e testemunharem o momento em que lágrimas de decepção correram pelo seu rosto. Depois de muitos esforços e dedicação, enfim ela ganha a bolsa de estudos tão sonhada para cursar astronomia na Universidade de Weber. Ao chegar aos Estados Unidos da América, na cidade de Ogden, Ana Lucia começa a trabalhar na mansão da família Bennett, onde conhece Albert, o filho mais velho do casal Annette e Matthew Bennett, por quem ela se apaixona e passa a nutrir um sentimento secreto. Possuidor de uma grande fortuna e sem interesse por uma profissão definida, Albert vive em festas de luxo e viagens pelo mundo acompanhado de sua namorada e noiva Brianna Willis, mulher competente e administradora de empresas.No decorrer dos meses Albert descobre um forte afeto por Ana Lucia, a garota que o fez descobrir o que ele passou amar de verdade: a astronomia. Mas um dia tudo muda e o glamour acaba quando Albert descobre que é portador de uma grave doença, e pela primeira vez ele sente a dor de ser desprezado. Resta saber se o amor verdadeiro permanecerá ao lado deste rapaz, então Ana Lucia terá que tomar a decisão mais difícil de sua vida.

 

 

PRAÇA DOS ANDRADAS

 

Passear pelas praças da cidade de Santos era como voltar ao passado, reviver a história de maneira única e emocionante. Era por isso que Ana Lucia Vasconcelos amava tanto aquele lugar. A Praça dos Andradas era a sua favorita, o piso de mosaico português e a iluminação dos trinta e quatro postes duplos eram o cenário perfeito para aquela noite especial.

Sentada no banco de madeira, por entre as duas pequenas alamedas abertas para facilitar a circulação das pessoas, ela aguardava ansiosa a chegada de Gabriel, rapaz com quem flertava já há algum tempo. Era um lance, uma daquelas paixões que talvez pudesse se tornar amor. O encontro foi marcado por ele às pressas, no dia anterior.

As pessoas transitavam quase sem olhar para os lados, mecanicamente, acostumadas com a paisagem ao redor, algumas sentadas nos bancos, mas para Ana Lucia toda a beleza de sua cidade natal nunca a cansava.

Ansiosa, ela não parava de olhar o relógio, estava certa de que Gabriel a pediria em namoro. Mesmo estando ela de partida para os Estados Unidos da América, tinha certeza de que poderia sustentar um relacionamento à distância. Ana Lucia só queria um amor.

Tudo que envolvesse estrelas, planetas, o universo a encantava de tal maneira que aos treze anos de idade comprou seu primeiro telescópio para observar os astros no céu.

Ficou órfã de pai e mãe aos quinze anos de idade e acostumou-se com a vida solitária na bela cidade de Santos. Morou na casa de sua prima Alice, trabalhou como babá, garçonete e aprendeu a falar inglês fluentemente. Algumas paixões passaram por sua vida, mas não para ficar.

O relógio marcava exatamente vinte horas quando enfim ele apareceu. Ana Lucia levantou-se do banco, ele se aproximou e ela sorriu tão sinceramente como nunca antes.

— Gabriel, que bom que chegou. Está atrasado. Quase me mata de ansiedade.

— Desculpe a demora. Hoje fiquei até mais tarde no trabalho, o movimento na loja foi intenso, maior que o de costume.

— Tudo bem. Não tem problema.

— Eu preciso muito falar com você, Ana Lucia. É importante. Não pode passar desta noite.

— Então fale, estou aqui pra te ouvir.

— Eu gosto muito de você, é uma garota inteligente, adora observar os astros, as estrelas, conseguiu uma bolsa pra estudar astronomia nos Estados Unidos... Você merece seguir seu destino e ser feliz fazendo o que você tanto ama.

— Espera, eu já sei onde você está querendo chegar. Entendo... pelo seu tom de voz está querendo me dizer que não vai ficar comigo porque eu vou embora para os Estados Unidos e você não quer um relacionamento à distância. Mas pense bem, pode até dar certo, mesmo que a gente esteja tão longe um do outro. Se a gente se ama, podemos pelo menos tentar.

— Ana Lucia, eu sinto muito, mas não é nada disso. Eu não te amo!

— O quê?

— É, eu não te amo.

— Explica isso melhor, porque eu nunca esperei que você me amasse. Ainda estamos nos conhecendo – ela disse sem entender.

— Eu sei que você nunca vai me perdoar, eu sinto muito pelo que eu vou te dizer agora, mas eu preciso dizer a verdade. Eu já tenho namorada. Eu estou noivo!

— O quê? Que absurdo é esse que você está me dizendo? Como assim você já tem namorada e está noivo?

— Eu errei. Eu sei que nós saímos juntos várias vezes, flertamos, achei você uma mulher muito interessante, você é maravilhosa, mas infelizmente eu não posso ter mais nada com você, eu vou me casar com outra mulher. – Gabriel sentenciou da maneira mais cruel.

Ana Lucia sentiu uma rápida tontura, mal podia acreditar nas palavras rudes e pavorosas que acabara de sair da boca do rapaz que acreditava que pudesse ser seu grande amor.

— Gabriel, por que você fez isso comigo? Como você pode estar noivo de outra mulher se você ficou comigo? Nós saímos juntos várias vezes, você me deu carinho, nós namoramos! Eu me apaixonei por você! Como você pode ter outra mulher? Me explica!

— Eu sei, eu fui um covarde, eu errei. Mas estou aqui enquanto ainda há tempo pra te dizer que você deve seguir seu caminho em paz. Vá para os Estados Unidos realizar seu sonho e seja feliz.

— Sim, é claro que eu vou. Eu não preciso de você! Quer saber de uma coisa? Eu te odeio, eu te odeio! E a sua noiva sabe que você namora outras mulheres?

— Não, não sabe!

— Você não presta! Por que me iludiu?

— Eu não resisti. Você é uma garota tão linda, inteligente, fascinante. Mas eu amo a minha noiva, é com ela que eu quero ficar.

— Então fica com ela e me deixa em paz! – ela disse gritando. Estava trêmula de raiva e não parava de chorar.

Ana Lucia saiu às pressas dali. Ele correu atrás dela.

— Espera, Ana Lucia! Você está muito nervosa. Eu te levo para casa de carro. – Gabriel pegou-a pelo braço.

— Me larga! Fica longe de mim! Eu não quero a sua piedade. Eu vou pra minha casa sozinha. Eu tenho nojo de você. Você me fez ser sua amante. Eu nunca fui tão humilhada em toda a minha vida. Saia da minha frente. Não quero te ver nunca mais. Sai! – ela gritou desnorteada.

Ela saiu dali correndo. Correu como nunca. Seguiu para a Ponta da Praia do Gonzaga. Foi direito para a areia onde, ajoelhada, chorou ainda mais, lamentou seu destino e lançou ao mar a pulseira que Gabriel lhe deu de presente no segundo encontro que tiveram.

OGDEN

 

Ana Lucia deixou as malas prontas para a sua partida que aconteceria no dia seguinte. Estava cheia de expectativas com sua nova vida que chegava. Partiria para os Estados Unidos da América, exatamente para a cidade de Ogden. Enfim realizaria seu maior sonho: estudar astronomia na Universidade Estadual de Weber!

 Lutou muito para ganhar aquela bolsa de estudos, falava inglês fluentemente e sempre fora uma aluna exemplar na escola.

 No dia do embarque, rumo a um novo destino, seu coração acelerou de ansiedade. Entrou no avião e ficou toda arrepiada, como se pressentisse que algo especial fosse acontecer. Não via a hora de chegar a Ogden.

 

***

 

O Aeroporto Municipal de Ogden-Hinckley estava movimentado naquela tarde de inverno, mais que o habitual. Ana Lucia pegou um taxi e foi diretamente para o alojamento da universidade. As montanhas ao redor cobertas de neve deixavam a paisagem ainda mais admirável.

— Aqui é meu novo lar. Agora serei feliz estudando o que eu tanto amo – exclamou a si mesma ao entrar no quarto que dividiria com outra universitária. Shelly Parker era a sua nova colega de quarto.

Uma semana se passara desde o início das aulas na universidade. Ana Lucia ficou encantada com tudo que estava aprendendo e conhecendo. Aquela nova cultura aos poucos começava a fazer parte de sua vida.

Na noite de mais um fim de semana, as colegas de quarto jantaram no Applebee’s, um restaurante popular e aconchegante no Riverdale. No momento em que se retiravam, a brasileira observou atentamente um jornal cair no chão diante dela, depois que um senhor sisudo se levantou da mesa e abandonou o tabloide no piso frio.

Ana Lucia agachou-se, pegou o jornal e leu-o com curiosidade. A página aberta era justamente a seção de anúncios e empregos. Com olhos atentos, percorreu os enunciados, pensando que talvez pudesse encontrar um trabalho que se encaixasse em seu perfil.

— Ana Lucia, nunca vi alguém tão interessado em um jornal local como você, diferentemente daquele senhor que, de maneira mal-educada, jogou-o no chão.

— Só pensei que eu talvez pudesse encontrar um emprego na sessão de anúncios. Nunca se sabe onde estará a nossa grande oportunidade...

— Encontrou alguma coisa interessante? É uma pena que não tenha mais vaga na lanchonete da universidade, senão você poderia trabalhar lá comigo.

— Não se preocupe, estou vendo aqui uma possibilidade de trabalho, algo não muito diferente de tudo que eu já havia feito.

— O que é?

— Uma tal família Bennett precisa urgentemente de uma empregada na fazenda deles. Pelo que vejo são muito ricos. Essa seria uma grande oportunidade de conhecer gente nova, de adquirir mais conhecimento, ter novas experiências.

— Telefone e marque a entrevista.

— Sim, farei isso agora mesmo.

Ela tirou o celular do bolso e telefonou para a fazenda intentando buscar mais informações sobre a vaga de emprego que acabara de ver no anúncio do jornal.

 

FAMÍLIA BENNETT

 

— Ana Lucia Vasconcelos, então você é brasileira e estudante de astronomia aqui em Ogden! – Annette iniciou a entrevista no sofá da sala.

— Sim, estudo astronomia, que é o que mais amo nessa vida.

— Muito interessante. Quer dizer que você gosta mesmo de observar as estrelas? Quer conhecer os mistérios do universo?

— Não somente as estrelas, como também todos os outros astros. O cosmos me fascina.

— Esplêndido! Percebo que é uma garota culta e esforçada. Estimo pessoas como você. Saiba que aqui na fazenda há uma colina com uma vista linda do céu noturno.

— Imagino que sim. Esse lugar é incrível!

— Bom, pelo o que me disse ao telefone, tem experiência em serviços domésticos.

— Sim, tenho. Já fiz de tudo na minha vida. Sei cozinhar, cuido da casa, sou babá também. Estou em Ogden com visto de estudante, mas consegui autorização do consulado para trabalhar meio período diário.

— Ótimo. Precisamos de uma auxiliar de serviços gerais no período vespertino e aos sábados de manhã.

— Por mim, tudo bem. Estou sim disponível nesses turnos, estudo de manhã somente nos dias de semana.

— Gostei de você. Pode trabalhar à tarde e já ficar aqui na fazenda para fazer suas observações no telescópio durante a noite. Temos um quarto de empregada disponível. Se quiser morar aqui, acho até que seria melhor pra você.

— Muito obrigada! Vou pensar.

Annette Bennett simpatizou-se de maneira especial com sua nova empregada, que a encantara demonstrando conhecimento e ao mesmo tempo simplicidade. A brasileira inspirou-lhe confiança.

Albert apareceu na sala de estar naquele instante em que sua mãe terminava a entrevista com a nova funcionária da mansão.

— Albert, meu filho. Venha aqui.

— Sim, mãe.

— Essa é a Ana Lucia, nossa nova empregada. Se precisar de alguma cosia é só falar com ela. É uma moça muito prendada. Estuda astronomia na Universidade de Ogden. Não é incrível? Eu disse a ela que aqui na fazenda temos uma colina com uma vista esplendorosa do céu noturno, onde ela pode fazer suas observações ao telescópio.

— É de fato fascinante estudar os astros do céu. Enfim temos uma funcionária intelectual na mansão. Parabéns, Ana Lucia. Seja bem-vinda.

— Muito obrigada, senhor Albert.

— Por favor, não me chame de senhor. Tenho apenas vinte anos de idade e sou solteiro. Me chame de Albert apenas.

— Tudo bem, Albert. Estarei à disposição para o que precisar.

— E eu preciso. Desde que a outra empregada se demitiu, meu quarto está uma algazarra. Não repare, por favor.

— Não se preocupe, eu o deixarei sempre arrumado.

— Mãe, estou saindo, só passei aqui pra te dar um beijo. Vou à uma festa com a Brianna.

— Cuidado, meu filho! O motorista te leva. Não quero você dirigindo depois de beber.

— Tudo bem, mãe, não se preocupe. O Josh vai me levar e me trazer de volta.

— Assim é melhor. Vai com Deus.

Ele saiu da sala.

— O Albert ainda é um pouco imaturo, só quer saber de festas e da namorada dele, a Brianna. Vive dizendo que pretende se casar, mas duvido muito.

— Mas ele ainda é tão jovem. Não deve mesmo se casar tão cedo se não tem maturidade.

— Você tem razão, menina. Amanhã você conhecerá a minha filha caçula, a nossa pequena Meg. Meu marido está viajando, como sempre a negócios, mas estará conosco no fim de semana – Annette disse sorrindo.

 

***

 

A futura astrônoma ficou muito vislumbrada com a beleza da fazenda. A família Bennett cultivava principalmente batatas, além de ser dona de uma fábrica de enlatados na capital do estado.

A estrada que levava para a fazenda era completamente iluminada. Albert adorava dirigir pelos caminhos de terra. Tentava aparentar que era responsável, prometia se casar, entrar na faculdade, mas era completamente indeciso, sem rumo certo, como uma folha ao vento. Ajudava na empresa dos pais, no setor administrativo, mas em nada que exigisse conhecimento especializado. Entretanto, era cheio de sonhos, de vida, frequentava as festas de seus amigos milionários, sempre rodeado por belas garotas, e namorava a nova-iorquina Brianna Willis.

 

***

 

Aquela foi a segunda noite de observações na colina da fazenda. Ana Lucia posicionara seu telescópio computadorizado bem no topo. A vista para o céu noturno era de fato maravilhosa, não poderia haver lugar melhor para ela exercer o que aprendia na faculdade.

Albert aproximou-se da colina. Estava extremamente curioso.

— Boa noite.

— Albert. Você por aqui! Estou surpresa.

— Fiquei curioso ao te ver observando as estrelas. Lindo telescópio! Grande, hein!

— Sim, é um refletor cassegrain computadorizado.

— O que isso significa? Eu não entendo nada de astronomia.

— Significa que é o telescópio mais indicado para observações profissionais, inclusive para as noturnas do espaço profundo. Não costumo fazer observações diurnas – ela esclareceu.

— Imagino que durante a noite, com a presença das estrelas, deve ser mesmo muito mais emocionante contemplar esse céu tão lindo.

— As imagens que ele capta são enviadas diretamente para o meu computador. Uso um programa especial de astronomia.

— Incrível! Reparei que seu notebook está aqui. Posso ver através do telescópio?

— Mas é claro que sim! Eu te ajudo. Eu estava admirando o planeta Marte nesse exato instante.

Albert posicionou seu olho esquerdo no monóculo do telescópio. Pela primeira vez observava um planeta através do instrumento.

— Ana Lucia, estou encantado com o que vi.

— Não é à toa, a natureza é muito bela.

— Agora eu tenho que ir, minha noiva está me esperando para jantarmos juntos.

— Sim, boa noite.

— Boa noite.

Brianna o esperava na sala de estar.

— Albert, o que você estava fazendo com aquela garota lá na colina? Passei de carro e vi vocês. Quem é ela?

— Ela é a nova empregada da mansão. A Ana Lucia é estudante de astronomia. Minha mãe incentivou-a a fazer as observações na colina.

— Interessantíssimo... Então agora sua família tem uma empregada intelectual. Fico surpresa com a novidade. E me diga, ela te mostrou as estrelas?

— Não exatamente. Eu observei o planeta Marte, fiquei curioso. Nunca tinha visto um telescópio de perto. E não é qualquer telescópio! Trata-se de um telescópio profissional computadorizado, um refletor cassegrain.

— Vejo que aprendeu bastante na aula de hoje. Só espero que você não vá toda noite lá para a colina ficar com aquela garota.

— Está com ciúmes?

— Claro que não! Só acho que não fica bem você de amizade com a empregada da casa.

— Meu amor, que bobagem. Agora esqueça isso e me beija. – Albert segurou-a pela cintura e a beijou.

 

Jamila Mafra

Mafra Editions e Jamila Mafra
Enviado por Mafra Editions em 27/08/2023
Código do texto: T7871476
Classificação de conteúdo: seguro
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