RETORNO AO PARAÍSO - EPÍLOGO - PARTE 1

RETORNO AO PARAÍSO

EPÍLOGO

TRÊS ANOS DEPOIS... 1981

- Ninguém sofreu mais do que ela, mas não havia ninguém mais forte que ela naquele momento, termina Wagner sua narrativa. - Foi o pior ano das nossas vidas, Selminha. O pior, não só pra mim como pra toda a família Valle.

- Eu imagino... E o que você fez depois que seu irmão morreu?

- Fiquei dois meses, indo e voltando de Campinas a Casa Branca, todo dia. Foi um sufoco. Meu pai, que parecia tão forte no dia da missa de sétimo dia, ficou muito doente. Chegamos até a pensar que ele seria o próximo. Eu comecei a me preparar psicologicamente pra isso, mas ele melhorou. Com ajuda da minha madrasta, ele melhorou. Melhorou em parte. O velho nunca mais sorriu. Ele morreu por dentro. Quando eu vi que as coisas estavam mais ou menos no lugar, voltei pra Campinas e caí de cara nos estudos. Tratei de não pensar mais em nada senão em Agromonia, provas, trabalhos, palestras... e não voltei mais pra Casa Branca nem naquele ano nem no seguinte, a não ser pra cuidar dos negócios da fazenda, quando o Lopes precisava de mim.

- Até um ano atrás.

- É... até um ano atrás, quando eu fiz vinte e três anos...

- Como é que é a vida de fazendeiro?

- Não é ruim, na verdade eu aprendo muito todos os dias com o Lopes e todos os peões de Quatro Estrelas. Acrescenta muito pra faculdade, me distrai um pouco e a lida me ajuda a esquecer a ausência que o Cláudio deixou dentro daquela casa. O pior é que é ausência e presença ao mesmo tempo. Meu irmão deixou a lembrança dele em tudo lá.

- Eu gostaria de tê-lo conhecido.

- Você ia amá-lo, tenho certeza...

Wagner apoia os braços no banco e olha para a catedral, lembrando-se do irmão. Eles estão sentados na Praça da Sé, no centro de São Paulo.

- Você tem ido a Londres? - Selma pergunta, tentando tirá-lo de seus pensamentos.

- Eu fui lá, no início do ano.

- Foi? E...?

- E o quê?

- Como está tudo lá? Mr. Bartley vendeu mesmo a mansão?

- Não... O Gart mudou de ideia. Não mora nela, mas não quis vender. Ela está do mesmo jeito. Quando eu entrei lá de novo... a lembrança da Linda entrou todinha dentro de mim. As cenas dela dentro da casa estavam de novo vivinhas na minha cabeça. Cada detalhe... Eu nunca consegui me esquecer dela... minha portuguesinha platinada...

- Então você chegou mesmo a amá-la.

Ele curva o corpo e apoia os braços no joelho, olhando para o chão, sorrindo.

- Acho que sim, só que descobri isso tarde demais... infelizmente.

- Você ia mesmo se casar com ela?

- Ia, mas acho que eu só tive certeza de quanto eu queria isso... depois que ela morreu. Aí eu percebi o que eu tinha perdido, quanto eu tinha jogado fora.

- E o Gart? Que aconteceu com ele?

- Continuou o mesmo, aliás, continua. Só que ele ainda não fala comigo, só o estritamente necessário. Nossa amizade acabou mesmo. Ele vem ao Brasil uma vez a cada semestre pra fazer o balanço de como vão as Empresas Russel, me traz uns papéis pra eu assinar, mas é só papo comercial. Nada mais. Ele mora em Manchester, agora, sozinho.

- Não se casou?

- Não. Ele faz trinta e um anos esse ano.

- Vocês dois se trancaram dentro de si mesmos pela mesma causa, pela mesma mulher.

- E eu continuo me sentindo culpado por ele estar assim. Desde o princípio, eu podia ter evitado essa tragédia. Eu devia ter me esforçado mais pra não ter me envolvido com ela, sabendo que ele gostava dela. Eu fui muito fraco, mesmo com ela me dizendo que não queria nada com ele... se ela tivesse voltado a Londres com ele, os dois poderiam até começar alguma coisa, sei lá...

- Mas pelo que você descrevia dela, ela era uma gatinha. Devia ser irresistível mesmo.

- Era... Ela era linda... por dentro e por fora... ele diz com um suspiro.

Selma chacoalha a mão na frente do rosto dele para acordá-lo de seus pensamentos.

- Ei, gato, já estou com ciúmes, hein? Acorda!

Ele sai de seu devaneio, sorri e olha para o chão, pensativo.

- Não fique assim, não. São águas passadas. Você não pode mais voltar no tempo.

- É, não posso...

Vendo que o assunto deixou o rapaz triste, Selma procura mudar de assunto.

RETORNO AO PARAÍSO – EPÍLOGO

PARTE 1

OBRIGADA SEMPRE!

DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Velucy
Enviado por Velucy em 29/07/2018
Reeditado em 29/07/2018
Código do texto: T6403383
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