Nova Iguaçu, pulp! - UM

UM

Mário já estava sem serviço há três semanas. Tinha que pagar o aluguel da sala que ocupava como escritório, na rua Otávio Tarquino, número 166, em Nova Iguaçu. Tinha que pagar a pensão alimentícia, coisa que não reclamava, pois eram trezentos e sessenta reais para viver livre. Dinheiro muito bem pago para se livrar de um péssimo casamento com a infiel Maria do Socorro e não ter a obrigação de educar o pequeno Samuel, pois tudo indicava que o moleque seguiria o caminho tortuoso da vagabundagem carioca. A conta de luz já tinha sido cortada pela famigerada Light, mas que já resolvera essa pequena pane com seu amigo Edmilson, um sujeito que trabalha numa empresa de instalação elétrica terceirizada.

Mário é detetive particular. Cuida de tudo. Até pouco tempo tinha um ajudante, mas a crise econômica do país e o caos financeiro do estado do Rio de Janeiro fez com que ele o demitisse. Sem mulher, sem filho e sem ajudante. Poderia se empenhar mais nos casos, mas os casos sumiram. O último caso que pegou seria enfiar na cadeia um pastor ladrão e tarado. Coisa que não conseguiu, pois o pastor acabou mexendo com a “irmã” errada, mulher de um policial lá das bandas de Cabuçu. Apareceu morto em cima do púlpito e com as calças arriadas. Fim de caso, nada de grana.

Mário trazia consigo o otimismo que herdara dos Alves, família paterna. Ele sabia que a qualquer momento cairia em seu colo um caso, quem sabe até um grande caso que lhe daria uma certa estabilidade financeira. Contudo, Mário também herdara o pessimismo dos Gonzagas, família materna. Pessimismo que sempre ficava ali, à espreita, quando os casos demoravam a aparecer, quando as contas começavam a chegar.

O prédio que Mário tinha sua sala, era um três andares dos anos 60. Quatro salas por andar. O primeiro andar, o andar de Mário, sala 13, era um verdadeiro deserto. A única sala em funcionamento era a dele. O prédio não tinha elevador, coisa que o primeiro andar lhe dava certa compensação. O prédio pertencia à Diocese de Nova Iguaçu e por ser muito velho sofria a indiferença dos padres. Mário sabia que a qualquer momento a Diocese poderia negociar o prédio e ele estaria na rua. Um caso era necessário, muito necessário. Certa vez, passou-se por carola e foi confessar-se na Catedral de Santo Antônio com o intuito de investigar os interesses do clero iguaçuano sobre o velho prédio da Otávio Tarquino. Não conseguiu muita coisa, mas no final da investigação suspeitou que a Igreja desconhecia a propriedade. Nesse caso, a riqueza apostólica o favorecia, pois sendo proprietária de tantos prédios, os mais arcaicos e ultrapassados acabavam ficando no esquecimento. E Mário precisava agir antes que o clero recobrasse sua memória.

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