BIBLIOTECA CARIOCA DA MORTE


I

 
Douglas cursava o 6 º período de Medicina naquela Universidade Pública e consideradamente tradicional do Rio de Janeiro. Religiosamente passava todos os dias na biblioteca para estudar- se sentia bem naquele recinto.
 
II
 
Conhecia todos os funcionários e fizera amizade com eles ao longo dos seis anos frequentados. A biblioteca dispunha de um acervo de livros de fazer inveja às outras universidades; O sistema de busca dos livros era maravilhoso; Havia um bistrô de excelente gosto com música ambiente, bolos espetaculares, cafés e chás exóticos - o único lugar que se podia conversar sem atrapalhar os leitores.
 
III
 
Os bibliotecários, auxiliares e agentes de leitura eram poliglotas, simpáticos, educados e muitíssimo inteligentes, porém aquele oásis cultural havia sofrido uma baixa aterrorizante em seu material humano: Sr. Júlio Cortez - o bibliotecário mais idoso - havia sido assassinado na biblioteca com requintes de crueldade, sendo encontrado com o rosto todo colado com páginas de diferentes contos de terror, com as mãos amarradas para trás, sem os pés -e no lugar deles- dois livros grudados,e gravado em seu abdômen o nº ISBN.
 
IV

Ninguém tinha permissão para entrar na biblioteca, apenas o reitor, policiais militares e federais, e o delegado responsável pelo caso.
Douglas muito chocado com o episódio tentava imaginar que monstro cometera tal assassinato brutal; E o acontecimento era um mistério para toda a comunidade acadêmica, pois o gentil bibliotecário fizera muitos amigos em 35 anos de profissão.

 
V
 
A viúva estava inconsolável, os filhos e netos revoltados ,perplexos com o caso. A barbaridade fora noticiada em todos os jornais da cidade, em muitos no país e alcançou as mídias internacionais- que alertavam os estudantes estrangeiros para a perigosa biblioteca da renomada Universidade.
 
VI
 
Após se passarem 8 meses daquela cena medonha- quando policiais faziam plantão na biblioteca - aconteceu outro crime sob a presença do aparelho do estado: Giovana uma estudante negra fora encontrada sentada no vaso sanitário da  biblioteca com uma faca enterrada no pescoço, com as mãos para trás. 
Em sua boca haviam muitas páginas da Divina Comédia, e em suas pernas nuas uma pilhas de livros de peças trágicas - mais um mistério se instalara na Biblioteca  - que ficou conhecida como   Biblioteca Carioca da Morte.

 
VII

Douglas que era colega de turma da estudante ao saber da notícia tivera uma síncope nervosa - foi levado ao Hospital Universitário- ficando em observação por algumas horas.Ao ser liberado seus pais sairam com ele, e o alertaram a nunca mais colocar os pés no recinto e os dedos em qualquer livro do acervo.
 
VIII

Desesperado o estudante de Medicina resolveu que não podia ficar parado a esperar outras mortes, e se reuniu com seu primo Gabriel estudante do 7º período de Direito; Marina estudante de Jornalismo do 4º período, Bianca estudante de Artes Cênicas do 6º período, Ricardo estudante de Administração do 3º período, Fernanda estudante de História do 7º período, Lucas estudante de Letras do 5º período, Pedro estudante de Química do 2º período e Regina estudante de Gastronomia do 3º período para formar uma comissão de investigação paralela para os dois crimes ocorridos na biblioteca.
 
IX
 
As polícias mantinham as invetigações em sigilo, todavia não ocorriam avanços. Chegou a época das férias, e tornava-se mais perigoso frequentar a Universidade - que estava tomada por policiais, guardas municipais, seguranças e câmeras para todo o lado. A biblioteca tinha sido fechada novamente, e não voltaria a funcionar até que fossem esclarecidas as mortes ocorridas.
 
X
 
Por ordem do reitor e com a autorização do delegado que havia constatado que não tinham pistas nos livros, e muito menos nas estantes -os acervos foram retirados do recinto e rearrumados no novo prédio universitário atrás do Bloco X - que pertencia aos cursos das áreas humanas,e com segurança todos os estudantes poderiam voltar a estudar com segurança num novo espaço.
 
XI
 
A comissão de 8 estudantes receosa com a transferência do recinto e com o motivo dos assassinatos passou a prestar atenção também como todos que tinham essa função na Universidade.
 
XII
 
Após 1 ano de ocorrência do 1º assassinato e de 6 meses do 2º, o 3º crime aconteceu - numa sexta-feira-  feriado nacional - em que a universidade estava fechada. Número de mortos 5 !!! sendo 2 seguranças, 1 guarda municipal ,1 policial militar e 1 policial federal - todos ajoelhados dentro da nova biblioteca, sem cabeça, e no lugar delas : livros  abertos,  sem a página 5.
 
XIII
 
A proeza fora descoberta  somente na segunda para a -surpresa e terror -das primeiras testemunhas. Novamente a Universidade foi  notícia das mídias, e recebeu 150 policiais, 30 guardas municipais e mais 10 seguranças.
 
XIV

Diante desse homicídio quintuplo a comissão de  8 estudantes , após muita discussão teve certeza de que a carnificina continuaria, e suspeitava que o motivo torpe das mortes estava ligada a sabedoria dos frequentadores da biblioteca e de seus funcionários. Então Douglas e seus amigos procuraram o delegado responsável e contaram o resultado de suas reflexões.
 
XV

Achando que os estudantes deliravam solicitou aos jovens que se afastassem do caso porque não era para o bico deles ,e que corriam sérios riscos. Portanto deveriam se manter fora das investigações como os demais estudantes. Parte do grupo estava vencido pelas argumentações da autoridade, e 3 deles sentiam que deveriam auxiliar na parte pensante das investigações.

XVI

 
O fim do ano chegou e outros crimes não aconteceram deixando mais tranquila a comunidade acadêmica, pais, e as autoridades do Estado e do país. O mês de janeiro de 2019 iniciou e para marcá-lo a biblioteca fora furtada desaparecendo   parte das obras de João do Rio, Lima Barreto,Rubem Fonseca , Nelson Rodrigues e  Machado de Assis.
 
XVII

Pasmos outros estudantes -os de Letras- não acreditavam na perda dos livros. A dor de cabeça só aumentava e a biblioteca era o alvo de todo o tipo de violência - na cabeça de muitos o local passava a ser amaldiçoado.
 
XVIII
 
Após 3 meses decorridos ao furto, uma morte ocorreu no alojamento universitário José de Alencar, no pavilhão masculino do bloco C e foram encontrados  no quarto do morto 10 livros contendo o carimbo da coleção furtada.

 
XIX
 
Ao saber da notícia, que se espalhou rapidamente muitos estudantes correram para o alojamento, e para o espanto de Lucas o morto chamava-se Jerônimo seu vizinho de Duque de Caxias e filho de um auxiliar de serviços gerais da universidade o Sr. Geraldo - que sofreu um AVC ao saber da morte do filho.
 
XX

Foi verificada a câmera de segurança do local e para surpresa de todos ela havia sido arrancada. Checadas as demais imagens - descobriu-se a ineficiência das outras câmeras, pois nem aquela cena estava registrada muito menos a cena da morte no alojamento tinha imagens. Poderia se supor que os criminosos eram as astutos e conheciam muito bem o local
 
XXI
 
Perturbado Lucas encontrou Douglas e Marina debatendo  que a chave para as violências praticadas na biblioteca e agora no alojamento ligam-se uma a outra. Douglas como Marina dão crédito a associação do amigo, que também não compreendeu o porquê dos livros estarem no quarto de Jerônimo -  que agora nada mais podia dizer.
 
XXII

A polícia e os repórteres agiam avidamente. O clima de tensão aumentou a passos largos na Universidade. E os três estudantes  contaram o que pensavam ao delegado - que cansado da insisitência  deles acabou por ouvi-los.
 
XXIII
 
O mês de março chegou de mansinho e ouviu-se um grito no 5º andar do bloco U . Um auxiliar de serviços gerais foi lançado deste bloco e em seu corpo estava escrito: O pré-X9 encontra com a natureza mais cedo. Horas depois para o horror instalado o nome do homem é João Barreto, e Douglas matou a charada: tem a ver com o nome dos autores João do Rio e Lima Barreto. Quem seriam os próximos?
 
XXIV
 
A Universidade foi fechada para a segurança de todos. E passou a ser vigiada segundo a segundo. Lucas, Marina, Douglas e o Delegado Elder Vasconcelos se reuniram com autoridades no Palácio Guanabara. Após cansativo debate suspeitou-se que o(s) assassino(s) também eram reponsáveis pelos furtos dos livros, e teriam dado fim em Jerônimo, mas por qual motivo? 
 
XXV

Essa foi a questão principal - segundo Marina e o delegado Elder. Douglas desconfiado da morte do auxiliar de serviços gerais tentava achar junto a Marina uma ligação com a morte do rapaz do alojamento.
 
XXVI

No dia seguinte houve uma descoberta importante: uma testemunha viu o assassino do auxiliar de serviços gerais correndo e o retrato falado estava pronto. A partir daí a montagem do quebra-cabeças se iniciou, pois o assassino era um ex-segurança da Universidade. Para a segurança a testemunha foi para a Argentina e ficaria por lá até que os crimes fossem solucionados - permanecia sob escolta de dois policiais onde quer que fosse.
 
XXVII

A polícia teve acesso ao livro registro de funcionários tercerizados da Universidade e foi reconhecido através de foto o nome seguinte: Roberto Rodrigues de Assis Fonseca. E as peças faziam sentido ainda mais.
 
XXVIII

O delegado suspeitava que o auxiliar de serviços gerais sabia algo relacionado a um dos crimes, e por isso fora apagado. Distribui-se a foto do suspeito por todo o Estado do rio de Janeiro, e o homem suspeito foi detido num Gol 1.3 na divisa entre a cidade de Paraty e Ubatuba.
 
XXIX
 
Detido o ex-segurança foi levado a delegacia, após 36 horas todos os crimes encaixavam-se perfeitamente: Sr Júlio Cortez forma morto, pois o pai de Roberto o assassino junto com seu irmão Gilmar-auxiliar de serviços gerais-na mesma universidade e gêmeo de Roberto havia sido deixado por Rosangela para viver com o Bibliotecário. No leito de morte o pai moribundo pediu aos filhos que se vingassem do ex-amante da mulher.Rosangela- linda e simpática, era auxiliar administrativa da Universidade - morreu carbonizada num estranho acidente de carro na Rio-Santos há 20 anos.
 
XXX

E essa obssessão junto com outras frustrações dos irmãos criminosos foi apenas crescendo e servindo de motivação para as atrocidades ocorridas.
 
XXXI

A estudante Giovana fora morta porque não quis namorar Gilmar, que não aguentou vê-la de amores pelos corredores com um estudante de Artes Cênicas, que era ator principal na peça: A Divina Comédia a ser encenada no Teatro Leblon em 2019.
 
XXXII
 
Os 5 agentes responsáveis pela seguranças e mortos na biblioteca primeiro foram envenenados através de um garrafão de água que estava de água pela metade - sendo comum a esses servidores, e depois arrancadas as cabeças e adornadas com os livros. A morte deles fora planejada minuciosamente para que nada impedisse os assassinos de agirem nos demais delitos.
 
XXXIV
 
O auxiliar  de serviços gerais  assassinado ouviu Roberto ao telefone quando comentava que mais uma parte do plano havia sido realizado na biblioteca, ao questionar o que o ex-segurança e estava fazendo na Universidade e o que estava falando foi lançado de uma altura de 5 andares.
 
XXXV
 
Os livros foram roubados para desafiar a polícia e aplacar a sede de vingança pelo recalque de Roberto que nunca conseguira passar para o curso de Medicina na Universidade que trabalhou como segurança.
 
XXXVI
 
Gilmar sorrateiramente arrancou sem ser notado a câmera de segurança que poderia acabar com os seus planos, do pai e do irmão. Infelizmente Sr. Geraldo pai do estudante Jerônimo não resistiu ao AVC.
 
XXXVII

Jerônimo foi executado porque achou os 10  livros numa sala de xerox desativada que pertencia ao diretório acadêmico da universidade . Ao ver pelo carimbo que pertenciam a biblioteca saiu rapidamente da sala com eles nas mãos, mas vou visto e seguido por Gilmar até o alojamento.

XXXVIII
 
Roberto foi obrigado a dizer o nome de seu comparsa, e não disse. A imprensa de plantão na porta da delegacia teve a oportunidade de fotografar e filmar o criminoso que a poucas horas tinha descrito todos os crimes com riqueza de detalhes ao delegado e ao escrivão. 
 
XXXIX

Gilmar ao ver o irmão pela tv pensou naa derrota dos planos que ainda estavam por vir,na sua provável captura. Assim tomou a decisão mais difícil em toda a sua vida e deu  um tiro na própria cabeça. Os agentes chegaram tarde para prende-lo, pois o corpo estava estendido no chão e a arma próxima.
 
XL

Roberto foi condenado a mais de 60 anos de detenção. E os estudantes foram condecorados pela Universidade com a Láurea de Dinamante - por auxiliar nas investigações para o bem da comunidade em geral.


 
Renata Emily
Enviado por Renata Emily em 18/08/2013
Reeditado em 19/08/2013
Código do texto: T4440829
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