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(...)—Ora, então sente a bunda e digite. A sua liberdade é a tela do computador ou a folha em branco. Apenas, sente e escreva!
—Sinto isso do fundo do meu ser, meu caro. Sinto que preciso fazer isso. Mas sabe quando a coisa não vem?
—Não.
—Que quer dizer? Nunca teve bloqueio de escritor? Ou você acha que é um gênio?
—AMOR & GENIO são palavras superestimadas da linguagem...
—Você já começa a ficar asqueroso! Já tá DEMAIS?!
—Para os meus padrões ainda estou começando, aliás, Sérgio, mais uma cerveja e um vodca se você estiver lépido e fagueiro.
—E então? Nunca teve essa sensação? Essa falta de assunto? Algo em que se fixar?
—Pra começo de conversa essa balela de “bloqueio de escritor” é asneira, baboseira: papinho furado de Fitzgerald, desculpa pra encher a cara desmedidamente. Pra dar vexame em festa. Pra chamar a atenção. Coisa de fracassado. Escrever pra mim é dependência física e psicológica. Posso ficar na ponta de um iceberg que eu escrevo, porra! Merda. Mas escrevo. Nunca fiquei em casa e disse: vou escrever algo. Preciso fazer uma música. A transa flui naturalmente. Ao invés de ficar discutindo uma coisa tão besta quanto política eu fico só observando. Assunto é que não falta...
—Tem que bancar o inteligente sempre?
—Não. É que não suporto essa insegurança. Quanto chegar sua hora a coisa vai vir. Não se força a transpiração. ( vira a vodca num único de decidido trago).
—Mas eu tento do fundo da minha alma. Quase enlouqueço!...
—Quantos anos você tem?
—26. Por quê?
—Vai entender quando completar trinta.
—E o que uma coisa tem haver com a outra?
( Suspira, pede mais uma vodca, essa vai ser outra longa noite )
Curitiba, 25 de setembro de 2014, 10 graus célsius, Primavera cinza, Era de Saturno.