Poucas palavras

Ela tentou apagar as palavras com as gotas das lágrimas, esfregando os dedos úmidos na carta, mas as pequenas letras não se moviam. Elas grudaram, foram absorvidas, engolidas pelo papel, permanentemente visíveis nas repetidas idas e vindas do olhar.

Eram algumas poucas palavras, que até poderiam compor um poema, se não fossem para ela... e conseguiam rimar! Pôde sentir o peso e a mágoa do abandono na curta existência. Mas na realidade tratava-se simplesmente de um desespero de principiante. E então, num ato exasperado, rasgou-a em pedaços, engolindo-a, salivando, até sentir a tinta amarga dos meses de engano.