ECOS JUVENIS

Manhãs de sábado adolescentes, o velho ritual. Mangueira, água, panos velhos, sabão em pó e, por fim, a cera Carnu. O carro do tio era lavado, religiosamente, de forma meticulosa, e encerado até brilhar.

O tio dizia que, com um carro espelhado e sua costumeira lábia, iria "pegar mulher", à noite.

Assim, o garoto observava e fazia seu aprendizado no mundo masculino. Preparava-se para reproduzir a estratégia de sedução e ter sucesso futuro.

Com o passar dos anos, se percebeu diferenciado. Não desejava o carro do ano. Ao invés da lavagem automotiva, preferia estudar partituras de violão em seu quarto.

Não almejava apenas "pegar mulher". Queria namorar alguém legal que o entendesse. Queria viajar, conhecer gente diferente, vivenciar o mundo da arte e da cultura.

Hoje, homem maduro, tem a convicção da escolha certa. Preferiu a arte e persegue utopias e musas imaginárias.

Mas. lembra com carinho do tio. Afinal, ele foi um homem de seu tempo, com desejos e aspirações comuns.

Ele é que persiste nesta senda pessoal. Mania de namorar a lua e esperar manhãs de sol e luz. Enquanto, isto for permitido.