O trem metropolitano parece estar parado. Vultos  velozes de homens e de mulheres passam voando. Não dá tempo de  reconhecer  as bonitas que se misturam com as dentuças, banguelas, brancas, pardas, e amarelas... Homens de toda estatura: sérios,  grandes, pequenos, negros e branquelos, corados, e  amarelos. Boas e más  criaturas voam vestidas  de muitas cores e  etiquetas, que revelam o nível social e o poder aquisitivo  de cada uma delas. Panos finos ou grosseiros, mulheres, homens e meninos em etiquetas   famosas, e também as baratas compradas na feira livre viajam  no lotação. Gente que tem pressa de chegar, outros tardios. Lentos corsários tomam de assalto uma presa. Apressados leopardos, trombam na calçada. Na plataforma é o trem que corre nos trilhos levando mulher, marido e filho nem sempre para o mesmo lugar. O trem chia, chegado.  Fernão ocupava uma cadeira no primeiro vagão. Ravenala  desembarca na Estação Carioca. O passageiro segue viagem. Nunca lhe dirigira a palavra senão, quando a perna da moça ficou presa no vão entre a plataforma e o trem. Naquele dia, prontamente, a segurou pelo braço e desceu com ela.

—Você se machucou? 
—Não, não. Apenas arranhões...
—Mas está sangrando...
—Sangra pouco. Vou passar no  Posto e fazer curativo.
—Vou com você.
—Não precisa.
—Não tenha medo; sou o Fernão. Trabalho aqui perto.
Passou o número do telefone, anotado num pedacinho de papel da agenda. Acompanhou-a com o olhar e despediu-se, tão logo o enfermeiro limpou os ferimentos e entregou a ela  um pacote com mercúrio e algodão: ‘Repita este procedimento amanhã. Não é nada grave, requer apenas higienização, uma vez por dia. ’  

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Adalberto Antônio de Lima - fragmentos de Estrada sem fim...
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