Tudo passa. De repente, em versículos, velozmente, a vida passa. Passa a vida, passa o tempo, passa boi, passa boiada, passa o vaqueiro na estrada. Só a saudade não passa. A menina passa a vida aguardando ficar moça. Guarda virgindade para o matrimônio, mas o homem é garanhão como um cavalo roncando atrás de uma égua no cio. Vil machismo: o que é pecado para a mulher, não o é para o homem. O dicionário também é machista: registra só palavras masculinas, o gênero, se faz à parte. Há também outros livros que protegem o homem. Fala de mãe solteira, e não menciona o pai. Apedreja a mulher adúltera.  É o padrão social. As regras que a sociedade dita. Ninguém grita ou reclama: ‘Cadê o homem que adulterou com ela?’
 No meio caminho está o ancião com uma pedra, preste a atirar naquela com quem adulterou. Também jovens atiraram pedras carregadas de fuxico que depõem contra a mãe solteira.
— Lá vem a mula-sem-cabeça.
— Que é isso?
— Mulher de padre. Dizem que vira mula-sem-cabeça.
— Mula-sem-cabeça não é a  besta fera?
— Parem com isso. Tenho medo — disse uma aluna, entrando para a sala. O bedel toca a sineta. É hora de ir para casa.