AS FITAS

Não se identificava com aquela escola. Mesmo sem outra referência, sabia que ali não era o seu lugar. Todo dia ouvia no portão de entrada: “Ande direito”, “Está na hora de cortar esse cabelo”. Fingia-se de surdo e seguia saltitante pelo corredor cheio de crucifixos e santos. Certo dia, resolveu suspender os cabelos caídos nos olhos com uma faixa lilás. Foi barrado na porta da escola e obrigado a tirar o adereço, “Aí já estava exagerando! Já basta esse jeito alegre e delicado pelos corredores da escola, agora vem de faixa de menina”. Querido pela turma, deixou os colegas revoltados com o ato da Madre Superiora. Precisavam fazer alguma coisa. E fizeram. Na hora do receio, as malhas azuis e rosas que enfeitavam o auditório, num corte de mágica, tornaram-me belas faixas de cabelo que enfeitaram as cabeças das seis turmas do ensino médio da escola, meninos de rosa; meninas, azul. Na mistura daquelas cores, a madre entrou num estado de raiva que a deixou roxa. E aos gritos de tirem isso, eles saltitavam alegres, armados com fitas.