A REVOLTA DO FEIJÃO

Marquinhos não entendia por que sua casa tinha televisão, geladeira, micro-ondas. Ele, aos sete anos, brincava com celular e tablet. No entanto, deixaram de comer feijão.

Moravam numa comunidade violenta, mas que estava longe de ser miserável. Na verdade, o menino não vivera os anos de miséria, de lama e escuridão daquele local. Estranhava o desaparecimento do grão que ele aprendeu a gostar de tanto ouvir “come feijão, menino, faz bem pra saúde”.

Antes do estranho sumiço, via na televisão que as pessoas estavam batendo panela e pensava numa possível Revolta dos Feijões. Bateram tanta panela, que o feijão foi embora. Às vezes, vinha o desejo de bater panela também, e quem sabe, se batesse ritmado, o traria de volta. Mas da última vez que tentou, sua mãe gritou da sala: “Deixa disso, menino, não é hora de fazer pagode. Se amassar minha panela, quebro o resto na tua cabeça”. Silenciou. E nesse instante, ouvia-se apenas a saudade fazendo protesto em seu estômago.