ABANDONO

Estavam casados há quase trinta anos. De um homem magro, cabeleira cheia, olhos secos, brotou fruto maduro, grisalho, brilhante para o mundo. Ela, dona de curvas cobiçadas, bela, de uma alegria que acordava as flores – murchou. Nas xícaras de café servidas, a esposa doava sua leveza e beleza àquele homem que não a devolvia. Com os três filhos casados, certa manhã, ele decide ir embora. Já não encontrava naquela casa as molduras e cores para prendê-lo. Partiu. E ela, sozinha, partiu-se. Ao seu lado, um bilhete manchado: “Perdão por perder o colorido, mas é que eu te amava tanto, que me desbotei para te pintar.”