ÚLTIMOS VERSOS DE DOR

Estava tudo acabado. Passara o dia triste. Entrou em casa pela porta da geladeira. Bebeu uma lata de cerveja num só gole. Era preciso desentalar. Empurrar aquele nó da garganta. Acendeu um incenso. Abriu outra cerveja. Trocou o CD há meses esquecido no som. Precisava afogar as lembranças. Sentou-se em frente ao computador e começou a escrever poesia. Aquela sensação de liberdade, de fazer o que seu desejo mandava, de guiar cada movimento do seu corpo em prol de si mesma fez sentir-se, aos poucos, assustadoramente feliz. Embriagada de solidão, masturbava sua alma com rimas raras. E sorria loucamente, ao vomitar seus últimos versos de dor.