POR AÍ, VIDA!

Recolheu os objetos numa lentidão que traia toda agitação que houvera momentos antes. Ignorou a trilha formada pelo respingo de sangue rumo ao elevador. Concentrou-se no frasco âmbar quase transbordando de formol. Desprezou parte do líquido fétido no tapete e só então apanhou o dedo anelar da esposa. Lacrou o frasco âmbar. Rabiscou um endereço. O interfone tocou. Cumprimentou o porteiro de passagem e despachou o frasco âmbar pelo motoboy. Na calçada ensolarada um mendigo estendeu-lhe a mão. Depositou nela a chave inútil do apartamento que acabara de abandonar. Caminhou até um táxi que o aguardava. Murmurou um endereço ao motorista e só então sacou da mochila um boné e óculos escuros.

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 04/01/2016
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