O TELEFONE

O telefone toca. Ela salta da cama. Perdera a hora, é a chefe, sem delicadezas. Veste a cara e cheira o café. O telefone toca. O cartão de crédito a lembrar a data do pagamento. Atravessa a rua, pega o táxi. O telefone toca. O ex-marido informando a data da audiência da separação. Para o táxi, ela segue, invadida pelos ecos da empresa. O telefone toca. O telefone toca. O telefone toca. Toca o relógio. Sai da callcenter sedenta de silêncio. Chega em casa, entregue ao sofá e ao barulho do vento que tentava invadir as janela fechadas. O telefone toca. Olha. É sua mãe. Não atende! Ensaia uma moderada sensação de liberdade e vingança. E dorme. Dorme sem lembrar do seu aniversário.