O CORDÃO DO MENINO 

O menino e o velho Matias vasculhavam o lixo daqueles prédios luxuosos. Rico sempre joga comida fora, era o que o mendigo dizia. Em um saco mais emporcalhado ainda do que aquela sujeira toda, o garoto deu de cara com o cordão e o grande crucifixo com a pedra encrustada. Mostrou-o, mãos gosmentas, ao velho que atestou, sem nem pegar naquele troço imundo, tratar-se de bijuteria barata, joia falsa. Meteu-o mesmo assim no pescoço. Fim da tarde e o levou ao vazamento do cano, onde tomavam água e banho. Lavou-o sem nem o sacar do peito. Sentia-se um lorde com aquele troço pesado. O inverno naquele ano estava rigoroso e, após uma noite especialmente fria, encontraram-nos abraçados em meio aos papelões. Um jornal noticiou que a cidade estava mais limpa e segura: dois ladrões, fingindo-se de mendigos, haviam morrido naquela madrugada.