Prostitutas são personagens da dor, canal por onde entra a fumaça do mal. Traem e são traídas, ferem e são feridas. Defendem um relacionamento que não querem ter, mas precisam. Não precisam de homem, precisam do dinheiro dele e do relacionamento que disputam: um amor que não recebem e nem dão. Tudo é negócio, a vida, um ócio, monotonia de esperar no apagar da luz, que brilhe sua estrela. Fingem. Apenas fingem que gostam e em paga, recebem dinheiro e fingimento. Aqueles a quem chamam de ‘meu homem.’  Não são seus, pertencem às esposas que os maridos deixaram em  casa. Nada fica, nada sobra na vida da  prostituta, nada além do palavroso queimando como fogo a vida chula que levam. E quando envelhece, dorme na rua inalando a creolina que os proprietários derramam, no fim da tarde, sobre as calçadas, para não serem incomodados com a visita noturna dos moradores de rua. É assim no Rio de Janeiro e em muitas cidades pelo Brasil afora.
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Adalberto Lima, fragmento de Estrela que o vento soprou.