Nos momentos de aflição, as horas parecem escorrer mais lentamente e cada minuto torna-se uma eternidade. Fernão estava em um isolamento de quatro paredes aladas. Paredes de ferro que  voava e parecia não sair do lugar. Sequer ouvia com clareza o ronco das turbinas, tal era sua compenetração na leitura de Bach. Tudo era um silêncio mortal, até que de repente, uma voz se fez ouvir em toda a aeronave: ‘Senhoras e senhores, estamos sobrevoando a costa Sul do Senegal. Temos nuvens pesadas em rota de colisão... Haverá alteração no plano de voo e atraso de trinta minutos na hora prevista para o pouso em Dakar. A temperatura externa  é de quarenta e sete graus negativos. Boa noite e boa viagem!’
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Adalberto Lima, fragmento de Estrada sem fim...