AMOR À VIDA!

Você não precisava ter feito desta forma. Bastava me dizer que já estava tarde e eu entenderia e partiria. Mas, você ficou me olhando como se estivesse entretida e atenta às minhas palavras. Assim, achei que podia explorar um pouquinho mais de sua companhia numa tarde tão bela e silenciosa, quebrada apenas pelas palavras que ditava-lhe com ternura e amor.

Mas, agora com tudo o que você deixou de falar para mim, não sei sinceramente o que pensar, o que fazer. Não foi pela recusa, mas pela forma. Afinal, ninguém é obrigado a ficar com alguém, quero dizer, pelo menos, você não está obrigada a ficar comigo. Eu é que por insegurança, promessa, seja lá o que mais, fiquei com você mesmo contra a minha vontade. Na realidade, por algumas vezes eu não a quis e tentei largá-la. Contudo, o tempo passou e o meu sentimento foi se modificando e, de repente, me vi gostando mais do que nunca de você, tornei-a imprescindível para mim. Por quantas vezes, desesperei-me ante a possibilidade de perdê-la. Eu que iludi-me, enganei-me, fui um bobo achando que não precisava de você. Agora, me vejo numa situação em que não sei como fazer, como proceder, como continuar? Estou sem chão, sem pé, sem amparo. A dor é muito grande, o medo me faz pequeno demais para olhar para cima. O que devo fazer para ter você de volta? Não desejo a certeza de tê-la perdido para sempre. Quero poder lhe dizer que preciso de você, não mais para cuidar de mim, mas só para viver com você. Por que aventurarmo-nos em caminhos diferentes, se os nossos corações já não anseiam por coisas novas, apenas as velhas, mas apuradas. Estamos juntos há tanto tempo. É melhor ficarmos com as nossas velhas paixões, cujas manias e vícios já conhecemos e sabemos como lidar com eles. Por que agora mudar, por que agora clamar pelo novo. Você e eu já estamos, curtidos, sentidos, cansados e, quanto a mim, amedrontado. Não é melhor para nós ficarmos um com o outro gerindo nossos medos, nossas inseguranças, nossos pequenos sonhos e desejos do que nos sujeitarmos às alternâncias da vida que se apresenta a cada minuto com uma cara nova que escamoteia sentimentos que irão nos deixar pra baixo, sem nexo, sem rumo?

O fato de você me abandonar não significa eu aceitar e pronto.

Caramba, por muito tempo eu fiz o papel de forte, todas as ofensas, todos os nãos, todas as despedidas foram como insurgências características que aparecem, nos batem, nos machucam, mas que nos ensinam também. Confesso que aprendi pouco, mas continuei em busca do conhecimento. Não alterei o meu caráter para o treinamento, não escapei de mim mesmo para poder me relacionar tanto com você quanto com qualquer outra situação ou pessoa. Apanhei muito e isto não me fez mais forte, mas mais acostumado e sereno.

Mas, agora sinto como que se tivesse perdido meu tempo. Lamento pelos 'nãos' não ditos quando deveriam ter sido ditos, lamento por não ter sido mais sincero e seco com relação aos meus sentimentos, lamento por tantas vezes ter me calado e deixar de fazer algo por achar que poderia com isso magoar alguém e, nisso, incluía você.

Agora estou só, com medo, sem esperança, palavras e vontade de seguir em frente sem poder estar com você. Acabou tudo e é-me difícil não somente aceitar, quanto principalmente, perceber que a verdade chegou de forma definitiva, irremediável, sem retorno.

Penso que você foi muito ingrata e quando eu mais queria continuar, você me abandona, me deixa só e atônito sem saber o que comigo irá acontecer, para onde eu vou, como eu vou.

O coração começa a falhar nesta bonita tarde de primavera. Uma pequena dor no peito começa a se intensificar, dificultando-me a respiração. Um sufocamento impede-me gritar por socorro, sinto-me esvaindo devagar. A visão começa a ficar distorcida, as cores do céu e do verde das árvores antes tão vivas, agora estão esmaecidas, quase apagadas, a mente já não consegue manter-se coerente e meus olhos vidram num céu sem cor em um ambiente surdo e mudo. Uma luz fortemente branca surge e me cega. Não sei o que me espera além dela.

Vida, que não pedi para viver, a quem esnobei por várias vezes e que em algumas dessas, tentei me desvencilhar, mas que com o tempo acabei amando de verdade, tornando-me um viciado em viver, totalmente apegado e dependente, e agora, por ela sou deixado para não mais viver a "minha" vida e a carrega para longe de mim.

E, a vida me abandona. A vida tão especial para mim e que nunca quis saber o seu real nome.

Que idiota eu fui!