TODO MUNDO TEM FRAQUEZAS

Este é o terceiro texto da série "Todo mundo tem...". O primeiro: "Todo mundo tem segredos" e o segundo "Todo mundo tem problemas" encontram-se disponíveis para leitura aqui, no Recanto. Obrigado e boas leituras.

Havia dado um novo rumo à vida e sentia-se bem com essa atitude. Largou os cuidados dados em demasia às outras pessoas, voltou a estudar, brigou com os velhos amigos, fez novas amizades e permitiu se influenciar por elas, foi à academia, emagreceu e deixou o cabelo crescer. Estava decidida a ser feliz e achou muito bom quando a felicidade imediatamente invadiu sua vida – a tal felicidade imediata chegou feito carreira de cocaína. Mudou e, com sua mudança, transformou o mundo em que vivia. Notou que as relações tinham de ser diferentes das que possuiu a vida inteira. Na verdade, não se importou com os bons sentimentos que sempre foram nutridos por ela. Fingiu esquecer de quem um dia lhe disse que a amava e dos projetos que haviam feito juntos. Era uma nova pessoa. Impressionou alguns, virou motivo de chacotas e piadas para outros. No fundo queria, mas sentia ( no cerne das virtudes) vergonha pela brusca transformação que se permitia. Dizia que mudava porque os ambientes que frequentava e as pessoas com quem agora convivia não permitiam ser como era outrora. Surgia nova criatura, novo mundo, nova vida. Mais guerreira e decidida, já não abaixava a cabeça para ninguém: O novo mundo era sua criação e posse.

Mas em todo mundo há riqueza e pobreza, saúde e doenças, tristezas e alegrias, como naquelas frases repetidas pelos padres católicos nas celebrações de casamento. Também existem problemas e, assim como o efeito passageiro da cocaína, a nova realidade criada passou...

Agora sentia saudades das boas e verdadeiras amizades e do respeito que sempre lhe dedicaram. Olhou-se no espelho e percebeu que havia emagrecido demais. Sentiu-se feia. Seu cabelo estava crescido, mas quem mais dele gostava já não estava ao seu lado para admirá-lo. Tentou esquecer de quem amava, mas, agora, percebia que foi amada e que amava em dobro o amor que um dia recebeu. Tornou-se uma nova pessoa e por mais que fingisse, não conseguia mentir para si própria. Queria que tudo fosse como um dia foi: simples e feliz e simples e feliz.