Impressões

Como que absorta em pensamentos, ereta, ela continuava sentada no banco da alameda do parque da cidade. Uma brisa suave roçava-lhe o rosto meigo e delicado. Parecendo meditar, olhava fixamente para um ponto a sua frente, porém, distante. Dedos entrelaçados faziam com que suas mãos repousassem no colo convidativo.

Um casal aparentando ser bastante jovem sentou ao seu lado, reduzindo-lhe o tamanho do banco. A menina por várias vezes e de forma inconveniente tocava-lhe o braço, às vezes, o ombro, mas ela parecia não se incomodar com isso, mesmo quando a menina numa gargalhada mais profunda jogou-se para trás quase que deitando em seu colo. Ela, mais uma vez, pareceu não se incomodar com tamanha inconveniência. Finalmente, o jovem casal levantou-se e foi embora.

Mais uns poucos minutos, um homem engravatado ocupou o espaço deixado pelos jovens, abriu a sua maleta executiva, retirou dela alguns papéis, folheou-os como se à procura de algo e tendo-o encontrado, de seu celular de última geração chamou alguém. Quem atendeu do outro lado da linha parecia ser um subalterno ou alguém assim, pois o homem que fizera a ligação estava muito nervoso, falando alto, por vezes gritando com o pobre alguém na outra ponta da linha. Em momento algum o homem exasperado olhou para quem estava ao seu lado em posição contemplativa, pois se o tivesse feito, por certo, reduziria o tom de voz e cuidaria melhor das palavras pesadas que proferia de maneira vociferante. Foram, aproximadamente,dois minutos de séria altercação de apenas um dos lados. Novos esbarrões, desta vez, mais fortes, e nenhuma palavra de desculpa pelos esbarrões. Mas ela, impávida continuava a mirar à frente, como se estivesse em transe profundo. Por fim, também, o homem desistiu de sua ligação, rearrumou os papéis na maleta, fechou-a e levantou-se e foi embora em passos apressados.

Uma senhora octagenária com a sua não tão mais nova dama de companhia sentaram-se no banco para aproveitar a sombra que um frondoso e velho carvalho proporcionava àquela hora do dia. A senhorinha abanava-se com o seu leque espanhol, afugentando um pouco a temperatura alta que fazia naqueles meados de verão. A idosa tentou puxar conversa com ela, tendo inclusive lhe acarinhado o rosto e as mãos, dizendo-lhe o quanto bonita era. A dama de companhia sorria e parecia concordar com as considerações da velhinha. Por ali ficaram uns bons e descansados minutos, conversando sobre os bisnetos de cada uma, das trapalhadas de alguns filhos, da saudade dos esposos de ambas, já falecidos, para, por fim, também irem embora, porém, não sem antes, se despedirem dela. Ela pareceu se importar com a despedida, mas sua determinada concentração a impediu de responder.

Alguns minutos depois da partida das duas senhoras, um pássaro pousou na ponta do banco. Serelepe, veio dando pequenos e rápidos pulinhos em sua direção, chegando-lhe muito perto das mãos que repousavam no colo. O pequeno pássaro parecia não temê-la, talvez devido à sua total e aparente imobilidade, característica dos mais ascéticos monges budistas. Repentinamente, um lindo momento ocorreu quando o pássaro de forma ousada pousa em suas mãos.

Uma mãe e filho passeavam de mãos dadas pela alameda e presenciaram a rara cena. A criança tentou correr em direção ao pássaro quase inerte sobre as mãos cujos dedos entrelaçavam-se, mas a mãe com um suave puxão, o impediu de fazê-lo. ‘Querido’ – ela lhe falou suavemente – ‘assim você irá assustá-lo. Deixe a mamãe tirar uma foto, antes, está bem?’ Tendo falado isso, direcionou o seu celular e pressionou a tecla. Houve um leve ruído metálico e a foto foi feita. Mãe e filho, curiosos, conferiram o resultado fotográfico. ‘Ficou perfeito!’ disse-lhe a mãe. Isto foi quase que uma permissão para o menino, então, correr em direção ao pássaro que assustado pareceu evaporar-se por entre os ramos do velho carvalho. O menino sorriu com a sua façanha, apressou o passo em direção à mão da mãe lhe estendida, segurou-a firmemente e perguntou à mãe que estátua era aquela onde estava o pássaro. ‘Não sei, não, filhinho. Deve ser de alguma artista qualquer, de antigamente’ – respondeu-lhe a mãe, e juntos, também, foram embora.