A poesia me foge dos dedos

Às vezes me bate um susto no peito

Que eu chego a tremer

Os dedos até queimam, a língua bate no alto da boca e estrala:

Vontade que tenho de escrever

É o dia que me inspira, de súbito, e sempre eu a guardo de volta, amanso

Afago meu consciente e sussurro, baixinho:

Agora não dá, não há tempo

Calma, que é só chegar em casa

E você pode correr livre nas linhas

E assim, de súbito, minha poesia corre casa adentro,

bate a porta e se acoberta

E não há barganha no mundo que a convença a sair

Como um parente distante, eu me pergunto

Se quando amadurecer, ela ainda me quererá perto

Se mais tarde, ainda morará aqui dentro

E em que teto vai se abrigar

Quando a vida a tirar de mim?

Por isso, hoje, eu a permiti

Sem receio, sem espera, e ela ladrilhou cada cantinho

Sentou, por fim, no meu colo e pediu pra viver um amanhã

Que, mesmo longínquo, eu prometi