Confraternização!

Quando vai chegando o fim do ano, eis que temos festas de confraternização para todo lado. É na escola; é na empresa; é em casa de algum parente... Todo mundo quer festejar e comemorar o ano de vida que teve e a possibilidade, quem sabe, de poder viver mais um ano.

Será que é errado fazer festa? Será que é errado celebrar? Reunir? Estar junto de pessoas que amamos? De pessoas com quem convivemos o ano todo?

Entendo que a confraternização está no Espírito de Cristo. Estar junto das pessoas a quem amamos é demais!

O salmista diz: “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre”, Salmos 133:1-3.

A comparação que o salmista faz entre o viver em união e o orvalho do monte Hermon é algo digno de ser comentado.

O monte Hermon possui uma altura de 2.814 m. Seu pico está sempre coberto de neve, enquanto que ao seu redor a terra é seca por causa do sol ardente do verão. A pesquisa nos revela então, que o pesado orvalho do monte rega toda a região em volta, fazendo da mesma uma área muito fértil e produtiva.

Sião é a antiga Jerusalém, que está mais ao sul da atual. O contraste entre Hermon e Sião é extremo: enquanto o primeiro representa vida por sua situação geográfica, Sião é a fronteira do deserto, que é símbolo de morte, de sequidão. A partir de Sião na direção sul só se encontra terra seca, sem vida. Enquanto a região do Hermon é rica em águas, a região do Negueve (ao sul de Sião) depende de cursos temporários de água que vêm das montanhas após as chuvas mais ao norte. No mais, encontra-se o Mar Morto, que, por seu alto grau de salinidade, não suporta nenhum tipo de vida. O deserto do Neguev ocupa em torno de 60% da área de Israel, localizando ao sul do país.

Mas o comentário que queremos fazer é sobre o encontro dos ventos quentes do Neguev (cujas temperaturas superam os 50 graus no verão) com os ventos gelados do monte Hermon. Quando isso acontece, ocorre sobre a cidade uma brisa de frescor agradável. Eu não sei se tiveram alguma experiência semelhante, mas me recordo de quando trabalhava na fazenda molhávamos a camisa de suor, por conta do exercício e do calor intenso. Então, às vezes, uma nuvem cobria o sol e um vento leve soprava em nossa direção. Quando isso acontecia, várias vezes eu parei o serviço e abri os braços para sentir aquele frescor agradável. Eu creio que Davi aqui se refere a essa sensação de prazer.

E sendo esta ou não a interpretação mais adequada desse texto, sobre o qual já li e ouvi tantas outras, o que nos interessa ao citar o texto é a questão do prazer provocado pela união de pessoas que se identificam e que tem algo em comum e que no Salmo 133, Davi chama de “irmãos”. Acredito que, numa interpretação literal, Davi aqui destaca a união das doze tribos de Israel, que aconteceu durante o seu reinado e não aos seus irmãos carnais, os filhos de Jessé.

Entendo que a metáfora é perfeita para explicar um pouco sobre a satisfação e o prazer provocado por uma confraternização de pessoas que se identificam de alguma forma, como os colegas de serviço, colegas de aulas, membros de uma família, membros de uma igreja... Em todas essas situações, o sentimento de gozo por estar ali, toma conta de todos.

Nós passamos o ano inteiro correndo de um lado para outro com os nossos quefazeres, sejam materiais, sejam espirituais, de tal forma que quase não temos tempo nem para a família nuclear (esposa, esposo e filhos). E isso não é bom.

Nos dias de Jesus na Terra, temos um importante registro de suas palavras em Mc. 6:31, que diz o seguinte: “Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco. Porque havia muitos que iam e vinham, e não tinham tempo para comer”.

Trabalhar faz bem ao espírito e é necessário para garantirmos a nossa subsistência. A Bíblia nos diz que aquele que não quer trabalhar, então que também não coma; orienta também sobre a desnecessidade daquele que trabalha ajuntar em celeiros, porque digno deve ser o homem de seu trabalho, ainda que hoje, a maioria dos trabalhadores e aposentados do Brasil recebam apenas o chamado “salário mínimo” que não é capaz de proporcionar uma vida digna à família do trabalhador, envolvendo suas principais necessidades como comida, moradia, saúde, transporte, educação, entre outras. Mas trabalhar demais, não compensa e não faz bem.

É certo que, às vezes, por razões tais, sejamos requeridos para trabalhar um pouco mais além da nossa jornada normal de trabalho, que hoje, no Brasil, é de 8 horas diárias e 44 horas semanais. E nesse caso tenhamos que fazer horas extras. Isso também é normal.

Nos tempos de Jesus na Terra temos um registro feito em João 5:17, onde Jesus disse: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”. Isso, referindo-se à necessidade de ter que trabalhar no sábado, dia ao qual os judeus guardavam, deixando de fazer nele qualquer atividade laboral, seguindo a regra de que o sétimo dia seria para o descanso do obreiro.

Mas, o trabalho extra, não pode virar rotina. Mas, aonde faltam obreiros, o trabalho que é necessário, acaba recaindo sobre os trabalhadores disponíveis. Não é por acaso que Jesus orientou seus discípulos para rogassem ao Senhor da Seara, para que enviasse mais trabalhadores, por os campos são grandes e os ceifeiros, muito poucos (Lc. 10:2). É claro que a aplicação aqui é sobre o trabalho espiritual, mesmo porque, nos dias de hoje, o que mais temos é o desemprego, principalmente por conta da desqualificação dos trabalhadores.

Voltando ao assunto principal, podemos concluir que a confraternização, além de ser prazerosa, também se faz necessária, como uma oportunidade de combate ao stress do dia a dia a maioria de todos nós.

Há um corinho histórico, não sei quem foi o seu autor, mas que é muito cantado em nossos dias e que diz: “Que maravilha é ser uma família, uma família em Cristo Jesus, uma família unida, uma família real, uma família celestial”.

E isso é verdade. O entendimento deve ser festejado, a união e a paz devem ser festejadas. Há quem prefira a contenda, o conflito, a confusão, mas nas igrejas de Deus esse não é o costume. Brigas, confusões e conflitos são comportamentos malignos e que não combinam com a vida de um servo do Deus Altíssimo.

Nós somos servos do Deus Altíssimo. Nós precisamos nos reunir periodicamente para saber como vai a vida de cada um e, se houver necessidade, também podermos compartilhar com o que necessita de apoio, um pouco da força que Deus nos tem dado.

“Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo”, nos ensina o aposto Paulo em Gl. 6:2.

Pelo que já dissemos, não tenho dúvidas sobre o valor, a importância e a necessidade de, periodicamente, fazermos nossas confraternizações. E que estas sejam momentos para avaliarmos o que temos feito, apararmos eventuais arestas que possam existir entre uns e outros, pedir perdão, chorar, alegrar, abraçar, sorrir e amar aos nossos semelhantes.

“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento.E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas”, Mt. 22:37-40.

É com esse espírito que desejo a todos boas festas e feliz ano novo!