APENAS POR DEUS?

Ao que lhe respondeu Rute: “Não insistas comigo para que te abandones e deixe de seguir-te. Pois aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus! 17Onde quer que morreres, morrerei eu e aí haverei de ser sepultada; que o SENHOR me castigue como lhe aprouver, se outro motivo que não seja a morte me separar de ti!”…(Rute 1.16)

Sempre que eu lia a passagem acima, a interpretação recorrente era a de um amor caridoso de uma nora para com sua sogra, um ato de desprendimento e solidariedade levado ao ponto de se abandonar tudo, desde o lar onde se cresceu e se construiu uma vida até mesmo a fé , para se construir uma nova história, porém preso ao tema central, muitas vezes não observava os detalhes, que somente começamos a apreender com o passar do tempo e depois de algumas releituras, por isso sempre procuro ler determinados textos várias vezes em um intervalo de tempo mais ou menos longo e , na maioria dos casos, sempre noto alguma particularidade que me escapou antes, seja devido à desatenção ou mesmo falta de percepção, coisas que algumas pessoas conseguem captar com apenas uma leitura, mas... nunca é tarde para expandir a mente com novas visões, o conhecimento nunca vem tarde demais, sempre se pode aproveitá-lo ou passá-lo adiante para que ele frutifique em solo fértil.

A ida e freqüência de uma pessoa à igreja, para mim, sempre deveria estar pautada em um profundo desejo de construir e manter um relacionamento com Deus, descartava veementemente qualquer motivação secundária,pois desse modo a sinceridade, condição básica para um relacionamento com o altíssimo, estaria comprometida, mas meditando nessa passagem do livro de Rute, percebi que tanto ela quanto Noemi não procuraram os caminhos do Senhor unicamente por amor e desejo sincero de relação com ele, a já idosa Noemi lembrou-se de como as terras de Israel tinham boas colheitas e, movida pela necessidade de sustento, retornou à sua terra, sua nora, até então devota de deuses pagãos, prometeu que seguiria sua sogra e adotaria o seu Deus como se fosse o dela, (ainda que esse Deus pudesse ser mais um ídolo falso, posto que ela não o conhecia realmente) uma movida pelo interesse material, outra por amor a uma pessoa, ambas procuraram o caminho até o Deus verdadeiro, e uma vez nessa trilha a obra foi feita, suas vidas salvas e restauradas, ainda que as motivações não fossem necessariamente as corretas a semente da salvação frutificou. Muitas pessoas chegam ao caminho do senhor por motivos que também não são necessariamente os certos, um o faz por desejo de satisfação material, outro porque tem um interesse sentimental por um membro, outro apenas porque um familiar insiste e mesmo assim, na maioria dos casos, a semente é plantada e a obra é feita, sem que Deus questione a motivação primária. A grandeza de Deus não indaga motivos, sejam nobres, sejam torpes, o evangelho visa ao coração e não é unicamente para quem é sadio, ou com boas intenções, seja por qual motivação for, o importante é que a pessoa se coloque no caminho que leva a Deus, e uma vez lá não há motivação que resista ao poder transformador e atraente do evangelho.

Jorge Luís