UMA HISTÓRIA DA PÁSCOA
“É a Páscoa do Senhor...” Êxodo 12.11
O sol deitava-se por sobre a colina
enquanto a brisa murmurava por sobre a copa do mangueiral.
O céu, vestido de púrpura, carmesim e de um linho entretecido
ao azul celeste, trazia uma sensação de alegria, paz e solenidade...
A família reunira-se na varanda. Um coro de andorinhas e maritacas
unia-se à alegria das vozes onde a ceia fora posta.
De repente, um ancião elevou as suas mãos
e todos contemplaram um pão que, nas cálidas mãos, partia-se.
Ao seu lado, uma criança maravilhada, lhe perguntou:
- Vovô, que rito é este?
O silêncio das vozes... e das aves que encontravam os seus ninhos.
- Há muitos séculos, um povo viveu escravizado por outro.
Sofreram, escravos, em todo tipo de trabalho e serviço que faziam.
Choravam, gemiam e clamavam a cada dia, esperando libertação.
Então, Deus o ouviu, e disse: “Vi a aflição do meu povo, e ouvi o seu
clamor. Conheço-lhe o sofrimento; por isso, desci a fim de livrá-lo da
mão daquele que o escraviza.” E assim, foram libertos.
Deus trouxe-lhes, justiça, paz e alegria. Mas o povo que foi liberto,
logo se esqueceu de Deus, e do que lhes fizera. E se afastaram dele,
e deixaram de praticar a justiça, de amar a misericórdia e de andar
humildemente diante de Deus.
Tornaram-se semelhantes àqueles que os escravizaram...
Então, mais uma vez Deus ouviu a voz dos que choravam sob a
escravidão, e disse: “Eis que farei nova aliança. Não conforme a
aliança que fiz com seus pais, no dia que os livrei, pois eles a
anularam. Esta é a aliança que firmarei: Na mente lhes imprimirei as
minhas leis, também no coração lhas inscreverei; e serei o seu Deus,
e eles serão o meu povo. Não ensinará jamais cada um ao seu
próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece a Deus,
porque todos me conhecerão, desde a criança até ao ancião.
Perdoarei os seus erros e deles jamais me lembrarei.”
Então, num dia inesperado, o inesperado:
Deus se fez presente, em meio à humanidade numa criança que nasceu.
De pais pobres, cresceu sem ser notada. Quando se revelou,
ensinou-nos o que é o amor, o perdão, a prática da justiça, da
misericórdia e o que é andar humildemente diante de Deus.
Mas os homens o rejeitaram.
Uns por não aceitarem que Deus possa fazer-se homem,
servo e viver humildemente entre os homens; outros, porque ele
desmascarara a hipocrisia da religião morta, sem Deus e que
manipulava aos homens; e muitos, porque ele se recusava a realizar
os seus sonhos pessoais. Por fim, foi entregue à morte pelo poder do
Estado, como se fosse um criminoso. Porém, Deus estava nesse
homem reconciliando consigo a humanidade, perdoando-nos dos
nossos erros e, acima de todas as coisas, ensinando-nos que o seu
amor é maior que todos os poderes do mundo, e que esse amor,
transforma e liberta.
O seu amor revelou-se em seu sangue derramado
para nos libertar de nós mesmos...
O ancião mergulhou o pão no cálice de vinho, e pronunciou:
- Na véspera de sua morte, ele nos ensinou: “Isto é o meu corpo e
isto é o meu sangue. Fazei isso em memória de mim...”
Então, entregou o pão molhado nas mãos da criança.
- Minha querida neta, nunca se esqueça, para que possa haver
justiça, paz e alegria, por vezes, o nosso sangue deverá ser
derramado, pois o amor nunca se impõe, apenas se dá...
e se recebe.
Moses Adam
Ferraz de Vasconcelos, 0104/2010