Mamãe, saudades que não tem fim!

Saudades de Mamãe!

Silvanio Alves da Silva

Ao falar das Mães, fico aqui pensando em minha mãe. Tão distante fisicamente e tão próxima pela dimensão do amor e do afeto. Agora existe a eternidade a nos separar. São 48 dias da última vez na qual estivemos juntos um do outro. Foi a última vez. Ao vê-la naquela cama, adoentada, frágil, as lágrimas teimaram ao sair dos meus olhos e umedeceram meu rosto. Senti-me impotente diante daquela rocha de 76 anos que sucumbia em seu leito de morte. Ela estava me esperando! Dias antes ela me dizia ao telefone: “Meu filho, venha rápido, eu estou indo...” Eu fui ao Maranhão para vê-la e a encontrei muito doente e debilitada. Tive a felicidade de encontrá-la viva e a oportunidade de ouvir sua voz penetrando meus ouvidos: “Meu filho, eu te amo muito; sou feliz e orgulhosa por você e sua família”. Eram frases emitidas com dificuldades, porém, verdadeiras. Minha mãe estava se despedindo. Ela morreu declarando-se feliz!

Sou órfão. Como dói ser órfão! É como se o universo nos abandonasse e toda multidão dos seres não se importasse conosco! Minha mãe, como todas as mães, é digna de admiração e veneração. Agora, órfão, estava eu, junto dos meus filhos, lembrando do meu tempo de criança. Como era bom estar no seu colo e ouvir os seus conselhos. Nós somos uma prole numerosa e mamãe, uma matriarca de personalidade forte e determinada. Em minhas lembranças do passado, recordei-me das palavras maternas. Ela dizia naqueles momentos em que estávamos juntos: “Meus filhos, prestem atenção! Nada prejudica a pessoa humana mais que a desonestidade. É horrível e vergonhoso para qualquer pessoa ser considerada desonesta ou ladrona! Portanto, nunca me dêem o desgosto desse tamanho. Sejam honestos, íntegros e cumpridores de suas responsabilidades. Não sejam invejosos; cada um terá aquilo que buscar merecer. Não dêem passos maiores que suas pernas, porque, senão, a queda será enorme. Conformem-se com suas posses, sem, no entanto, deixar de lutar para progredir. Sejam bons filhos porque se o forem, serão abençoados por Deus e terão prosperidade na vida”.

Eu me lembro da sabedoria de minha mãe na educação dos seus filhos. Embora ela fosse analfabeta, a sua inteligência era um destaque para nós. Com sua meiguice e ternura, ela nos colocava em roda, sentados no chão batido de nossa casa, nos contava as mais belas histórias de príncipes, reis, dragões, monstros de sete cabeças, aventuras e heróis que nos deixavam embevecidos de tanta emoção. Quem mais poderia construir um clima dessa natureza senão uma mãe? E minha mãe tinha todos esses atributos.

Amor de mãe é incomparável e não pode ser mensurado. É a amostra grátis do imenso amor de Deus por cada um de nós. Por isso, embora com o coração partido por sua ausência física, sou uma pessoa feliz. Tudo que tenho e sou, devo, exclusivamente, no plano terrestre, à minha mãe a quem sou e serei eternamente grato. Seus ensinamentos me deram uma base para enfrentar as adversidades da vida. A força de minha mãe me deu coragem e persistência nos momentos difíceis. Posso afirmar assim, porque na pobreza ela jamais sucumbiu e nunca permitiu que nenhum dos seus filhos mendigasse. Na miséria, ela sempre dizia: “tudo vai melhorar, não se preocupem. Nós vamos atravessar esses momentos difíceis e além do mais, Deus nos ajudará”. Mesmo sendo pobre, ela jamais deixou de ser mãe no sentido pleno da palavra e seu amor nunca nos faltou. Foi dura e firme quando precisava. Foi uma grande educadora. Ela nos dizia: “Meus filhos, não desejo que vocês sejam analfabetos como eu. Por isso, estudem. Porque somente pelos estudos é que vocês poderão vencer na vida. O conhecimento é um tesouro que não pode ser roubado e é um bem que, mesmo dividido, aumenta constantemente. A escola é uma janela de oportunidades para quem quer aprender e se eu pudesse, todos vocês se formariam e seriam doutores”. Nenhum de nós é “doutor”, porém, posso me considerar um vencedor por causa do amor e da sabedoria de minha mãe. Apesar de a morte tê-la afastado de mim, ela está dentro do meu coração em uma dimensão que tempo e espaço não têm influência. E ainda hoje, fico emocionado ao me lembrar de sua voz me dizendo: “Meu filho, Deus te abençoe e te faça feliz! Deus te dê boa sorte e não se esqueça de que eu te amo muito”. Sei que não a ouvirei novamente, porém, não a esquecerei jamais.

Esse é o primeiro dia das mães no qual me sinto órfão, sem mãe. A tristeza invade minha alma e meu espírito se envolve na saudade dolorida. Todavia, desejo parabenizar todas as mães do mundo pelo seu dia! Parabéns, heroínas sem medalhas, parabéns portadoras do amor! Que os filhos saibam reconhecer o seu valor.

Dia das Mães – Maio de 2005.