O tempo é algo que não se pode voltar

O tempo é algo que não se pode voltar. Será mesmo? Quando eu sou algo que não quero, será mesmo que não posso mudar? É realmente assim que é a vida?

Bem, acredito que seja um pouco assim. E que também não seja. Isto porque quando deixamos de ser aquilo que realmente somos, deixamos de ver o tempo passar. Mas a questão, então, não é saber se o tempo é algo que se pode voltar ou não, mas sim, saber quem somos, para que possamos viver o tempo?

Infelizmente, não sei quem sou. Não sei. Sei que sou humano, mas isso não define quem sou eu, apenas define a minha espécie. Sei que tenho sentimentos, que tenho medos, mas isso define meu psicológico e não quem sou eu.

Quem sou eu? Who am I? ¿Quién soy yo? São tantas as línguas, tantas as vozes que fazem essa pergunta, mas nenhuma delas pode definir. Seria mais fácil perguntar o que eu sou. Mas saber o que somos, realmente define quem somos? Digo saber que somos humanos, define a nossa humanidade? Saber que somos mortais define a nossa mortalidade?

É claro, saber um pouco sobre nós, ajuda a compreendermos a essência de algo maior. Mas não nos ajuda a entender, talvez ajude, mas eu creio que não, quem somos.

Outro dia um amigo perguntou-me: Gustavo, como eu posso descobrir quem sou eu? Eu disse, é uma boa pergunta. Veja a razão: inicialmente, nós queremos muito nos conhecer. Saber nossas fraquezas, nossos pontos fortes. É claro, todos temos isso. Todos temos isso de querer saber quem somos e se é que somos alguma coisa. Mas ai vem o mais interessante: quando descobrimos temos medo de aceitar.

Vou contar o meu caso. Quando eu era mais novo eu vivia com minha avó e minha tia, na verdade, ainda vivo, e nessa fase da minha vida eu era uma criança normal, cheia de sonhos e manhas e de manias. Mas infelizmente a vida não é um mar de rosas.

O tempo foi passando, ainda passa, e eu acabei mudando um pouco com ele. Eu deixei de ser criança, virei adolescente. Depois de um tempo, assim acredito eu, virei homem. E nesse percurso, nesse perlativo caminho, eu perdi-me.

Perdi um pouco do que sou algo que como diria Shakespeare: a vida tem o costume de escapar em meio aos vãos. Foi assim que eu acabei por me tornar o que sou hoje. Hoje eu sei que sou um homem. PONTO. Um homem é muito vago.

Vamos por parte, ok? Eu sou um homem. Sou extremamente e demasiadamente inteligente. PONTO. Mas ser inteligente é muito vago também. Vamos melhorar isso. Ser um homem inteligente é bom, mas e a beleza? Certo. Eu não sou muito bonito, mas tenho certa facilidade em encantar as pessoas que vivem ao meu redor. Acho que deve ser pelo conjunto, não que seja o tipo ideal de homem.

Na verdade, eu estou mais para o comum. Isso mesmo, comum. Não tenho uma beleza descomunal, não tenho coragem tamanha, muito menos força. Sou corajoso, sou bonito e sou forte, mas tudo na medida do possível.

Vejamos: sou um homem inteligente bonito corajoso e forte. Quantas qualidades, não? E os defeitos? Bom, digamos que sou egoísta, não que não ajude ao outros, de modo algum, mas é que eu não SINTO isso. Existe, em mim, uma grande diferença entre sentir e saber. É como se fossem dois lados diferentes do mesmo Gustavo: um Gustavo que sente e outro que sabe.

O que sabe é um homem frio. Extremamente frio. Ele esconde tudo o que sente. Nunca conta para ninguém de sua vida. Passa-se por forte e nessa mentira ele acha que engana o mundo. Ele é extremamente inteligente e não tem medo de lutar pelo que deseja. Ele também odeia mentiras e não perdoa facilmente, na verdade, ele finge perdoar, para depois se vingar. Ele governa a cabeça do Gustavo (o físico) quase que completamente.

Mas como disse, existe o Gustavo que sente. Ele também é um homem e ainda sim esconde o que sente. Ele também é racional, inteligente, passa-se por forte e acha enganar a todos. Ele também finge perdoar, mas não o faz. Então, por que dizer que são dois? Porque o Gustavo que sabe não sente. E o Gustavo que sente não sabe. É tão simples.

É claro, isso tudo ainda não responde quem sou eu ou quem é você, mas responde o que eu sou. Sou desse jeito: um homem inteligente bonito corajoso forte batalhador responsável mentiroso egoísta dominador autoritário gentil racional tolo e perdido. Também sou um amante da arte, da música e do cinema. Odeio que me contrariem. Sou um pouco criança, apesar de ser maduro. Sei o que quero. Sei aonde quero chegar, mas não sei o que fazer quando eu lá estiver. Mas ainda sim, existem duas coisas que eu não sou. Uma delas é uma pessoa ruim. A outra é uma pessoa boa. Sou um pouco dos dois.

Eu, em alguns momentos, gostaria de matar as pessoas, outros, eu gostaria de beijá-las e amá-las eternamente. Mas como disse: isso ainda não responde quem sou eu. Partindo disso, eu quero chegar ao consenso: eu sou um homem. Mas o que é ser um homem?

É ter um pênis? É ser velho? É ser humano? Volto de novo a Shakespeare: amadurecimento tem mais a ver com o tipo de experiências que você viveu e o que aprendeu com elas do que quantos aniversários, você celebrou. A verdade é que eu não sei se sou um homem maduro. Eu ainda me sinto como uma criança. Mas em verdade eu sei: eu consigo seguir sozinho.

Sabe, a vida é muito boa às vezes. Mas também é muito ruim. Sabe por quê? Ela é boa quando nos dá a chance de conhecer a verdade e de sabermos quem somos, ou pelo menos como somos. E ela é má por nos deixar saber e conhecer.

Por fim, gostaria de dizer que a falta de verdades na minha vida, fez-me assim: uma tanto quanto confuso e perdido. Eu tenho vontade de amar. Sinto que posso amar. E isso para mim é muito forte. Mas a merda da minha RAZÃO diz-me que não. E então o que fazer? Ouvir meu coração ou ouvir minha cabeça? Será que eu consigo ouvir um dos dois?

Agora chega. Obrigado.

Le Vay
Enviado por Le Vay em 20/10/2011
Reeditado em 21/12/2011
Código do texto: T3287021
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